A escolha de uma capital

Curitiba foi escolhida por estar no meio do caminho entre Paranaguá e Castro, as maiores cidades da província naquela época

Quando a então 5.ª Comarca conseguiu a sua emancipação da Província de São Paulo em 1853, o Paraná passou, de fato, a existir politicamente. Coube ao baiano Zacarias de Góes e Vasconcelos tornar-se o primeiro presidente do Paraná e instalar a Província em 19 de dezembro daquele ano. Aos 38 anos, ele e sua esposa Carolina foram recebidos com festa pela população.

Mas todo esse trâmite foi resolvido nos altos escalões. Até mesmo o nome do atual estado foi determinado de cima para baixo. Coube aos burocratas do Império determinarem que a nova província passasse a se chamar “Paraná”, que em guarani significa Grande Água ou “rio semelhante ao mar”. Na época, esse rio era praticamente desconhecido por parte da população local, que habitava majoritariamente a região leste do estado.

Zacarias assumiu o cargo com a missão de organizar uma localidade que há muito tempo sofria com a falta de investimentos e com o abandono político, social e econômico por parte da província paulista. Escolheu como a primeira sede do governo o Sobrado Bittencourt, próximo da atual Rua Barão do Rio Branco, em Curitiba.

Apesar de ficar no cargo apenas até maio de 1855, Zacarias deixou um importante legado. Ele encomendou estudos para a construção de estradas que ligassem Curitiba ao litoral, determinando – assim – a construção da Estrada da Graciosa, que só foi completamente concluída em 1873.

Também dividiu a província em três comarcas: Curitiba, Paranaguá e Castro. Criou ainda uma companhia policial para dar segurança à sociedade. Além de incentivar a edificação de várias escolas primárias, por exemplo.

Dentre as suas missões, foi ele o responsável por dar a palavra final para que Curitiba figurasse como a capital da recém-criada província paranaense. Nessa época, segundo escreve o historiador Ângelo Priori, o Paraná tinha em seu território duas cidades – Curitiba e Paranaguá –, sete vilas – Guaratuba, Antonina, Morretes, São José dos Pinhais, Príncipe (Lapa), Castro e Guarapuava –, seis freguesias – Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa, Jaguariaíva, Tibagi e Rio Negro – e cinco capelas curadas – Guaraqueçaba, Iguaçu, Tindiquera (atual Araucária), Votuverava (Rio Branco) e Palmas. A população de toda província era de aproximadamente 62.258 habitantes.

Zacarias de Góes e Vasconcelos. Foto: reprodução.

A decisão

A lei que criou a Província do Paraná, sancionada em 29 de agosto de 1853, estabeleceu Curitiba como capital provisória até que a Assembleia Provincial (formada pelos deputados da época) deliberassem sobre o tema. “Duas correntes de opinião, com peso maior, logo se delinearam. Uma representada sobretudo pelos comerciantes de Paranaguá que reivindicavam a cidade portuária, de maior atividade comercial da Província. (…) Outra, constituída principalmente pela sociedade campeira dos Campos Gerais que defendia Curitiba como sede da capital paranaense”, escrevem os historiadores Altiva Pilatti Balhana e Brasil Pinheiro Machado.

Em Paranaguá, predominavam os conservadores, liderados por Manoel Francisco Correia, produtor de erva-mate. Já em Curitiba, a força estava com os liberais encabeçados por José Caetano de Oliveira, o Barão de Tibagi, um dos mais representativos comerciantes e pecuaristas do período. Por trás desta “disputa” entre as cidades, estavam interesses políticos dos grupos locais. Um desses grupos acabou saindo “vencedor” da história.

Como atestam Balhana e Machado, “o presidente [Zacarias] fora ganho pelos liberais e pelos fazendeiros liderados pelo Barão de Tibagi”. Zacarias, assim, acabou defendendo a escolha de Curitiba como capital por ser a cidade mais ao centro, entre Castro e Paranaguá – mesmo que as duas localidades fossem mais povoadas no período, como escreve José Francisco da Rocha Pombo.

Curitiba, nesse período, tinha um pouco mais que 200 casas e, segundo o historiador Renato Mocellin, 5.819 habitantes, dos quais 473 eram escravos. A localização curitibana facilitaria, na visão de Zacarias, a administração da província.

No entanto, mesmo sendo sede da Comarca desde 1812 e considerada “cidade” desde 1842, a estrutura curitibana era extremamente precária. Esgoto à céu aberto, falta de escolas e de medicamentos e estradas intransitáveis e sem calçada eram constantes. Começar a resolver essas situações era mais do que necessário. A missão de Zacarias era desafiadora e ele precisou agir, sendo o responsável por dar os primeiros passos para o desenvolvimento urbano Curitiba.

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