Um fotógrafo adaptado à nova realidade

Fotografando de casa devido à pandemia, Gero Hoffmann consegue realizar seu trabalho sem perder a essência

Impactados pelo isolamento social, inúmeros fotógrafos precisaram se reinventar e aprender novas maneiras de fotografar à distância. Como Gero Hoffmann, que fotografa há dez anos e, em 2017, começou a desenvolver o seu trabalho com a gastronomia. Atendendo a muitos clientes dos mais diversos segmentos, Hoffman conta sobre como tem sido seus dias de trabalho em meio a pandemia.

Como era a sua rotina de trabalho antes da pandemia?

Antes eu atendia em média de três a quatro clientes na semana, trabalhando com o sistema de diária e meia diária. Como prefiro fotografar e entregar mais material para o cliente, gerando um conteúdo maior, eu ia nos locais e atendia aos clientes ali mesmo. Montava as cenas no espaço do restaurante, com equipamentos, flashes, câmera, enquanto os pratos iam entrando. Então, ficava mais fácil.

Qual a diferença entre trabalhar presencialmente e a distância?

Eu já fiz muita fotografia de produto em casa. Eu recebia o produto e tinha um tempo hábil para desenvolver o trabalho, com o produto na minha mão. Eu testava, colocava no computador e via se estava tudo certo. Era uma liberdade um pouco maior do que diretamente com o cliente na empresa, tendo pouco tempo para resolver qualquer tipo de falha técnica. Mas em casa tem que ter um pouco mais de disciplina.

Para você está sendo desafiador esse momento? De que forma?

Sim, estou tendo que me adaptar a uma nova forma de trabalho. Falta o contato, falta o cliente. Acho que também é uma questão de ajeitar um marketing, uma proposta de engajamento, que é o que eu vejo que tem muito. Muita gente apostando e patrocinando coisas online. Eu tenho colocado datas limites para desenvolver as coisas e tenho usado outras pessoas como referência pensando: ‘’isso é legal fazer igual. Isso nem tanto’’. Então, você vai lapidando até chegar em um resultado interessante.

O fotógrafo atende a muitos clientes dos mais diversos segmentos.

A minha função é deixar bonito. Eu não sou um ótimo cozinheiro, o meu negócio é fazer a foto.

Gero Hoffmann.

De que maneira está sendo a sua adaptação dentro de casa, em relação a ambientação que você tinha nos restaurantes e outros estabelecimentos?

A minha função é deixar bonito. Eu não sou um ótimo cozinheiro, o meu negócio é fazer a foto. Eu encaro a comida como um elemento de cena. O que eu posso criar em cima? Como posso montar ela de uma forma arquitetônica para que fique interessante? Então, busco o melhor pedaço da comida, o que se destaca, que dá um brilho diferente. É isso que vou buscando.

Como você está administrando o que era feito nas cozinhas dos seus clientes?

O preparo já implica um pouco de trabalho, então eu preciso praticar isso um pouco mais. Para fazer um prato legal e bonito demanda tempo, e eu gosto de trabalhar com os clientes por conta disso. Porque vou lá para executar as fotos. Mas eu tenho tentado buscar alguma coisa com envios. Tenho uma amiga que é padeira, ela está fazendo os pães e vendendo e sempre me manda os pães semanalmente. Então, são produtos que vem até em casa e acaba se tornando mais fácil para fotografar. Agora, para fazer um carpaccio, que demanda uma boa experiência nessa área, eu não domino. Até pela questão da cozinha que tem que ter toda uma infraestrutura.

Você acredita que esse novo fluxo de trabalho de fotografia de gastronomia, pode se tornar um modelo permanente?

Acho que ele pode ser mais um. Até porque quando as coisas voltarem ao normal, vai ser retomado o tipo de atividade que a gente tinha. Mas, ao mesmo tempo, acredito que vai ter essa outra forma, e que terá pessoas especializadas nisso, nessa forma de atender em home office. Acho que em vários tipos de trabalho que foram realocados para o home office. Antes existia esse tabu do tipo: ‘’Ah, mas a pessoa vai ficar em casa e não vai trabalhar’’. Hoje precisou por uma necessidade de urgência e muitos até perceberam que rendeu mais do que se estivessem na empresa. Então, acredito que em certos tipos de trabalho vai se mudar totalmente.

Você tem algum projeto agora na quarentena?

Tenho algumas ideias que estão vindo nesse processo, só que para executar será um pouco diferente. Sendo online, tenho visto muita gente fazendo o mesmo sistema de foto em casa e fazendo live com o cliente direto. Às vezes, até com agência. Eu vou fazendo assim “arruma mais para cá, arruma mais para lá’’ ou com a câmera ligada diretamente no computador, assim facilita um pouco no processo de chegar num resultado que a gente gostaria.

Orientação: Marcia Boroski (jornalista e professora).

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima