Peças online viram alternativa para grupos de teatro

Afetada pelo fechamento de casas de espetáculo, a produção teatral passa por dificuldades em meio a pandemia. Recursos públicos pela Lei Aldir Blanc e internet são alento para profissionais

A impossibilidade de realização de peças devido à pandemia de Covid-19 tem provocado um apagão teatral no Brasil.  As produções estão entre as mais afetadas, já que várias casas de espetáculo permanecem fechadas e peças ainda estão suspensas para evitar aglomerações. Sem o dinheiro das bilheterias e patrocinadores, a vida de atores, diretores e equipes técnicas tornou-se bastante incerta.

O tradicional Festival de Teatro de Curitiba, um dos principais eventos nacionais da área é um exemplo. Realizado anualmente em abril/maio o festival foi suspenso em 2020 e continua sem data para sua realização em 2021.

Dentre as alternativas encontradas pelo chamado “teatro pandêmico” está a realização de peças com transmissão via internet. As produções são gravadas e disponibilizadas ou são transmitidas via streaming gratuitamente para o público em geral.

O ator, diretor e produtor teatral Alexandre Biondi conta como foi o início da pandemia e a adaptação de seu espetáculo Refúgio. “Infelizmente a gente teve que parar o Refúgio e aí veio uma necessidade de repensá-lo de uma outra forma. A gente pensou no Refúgio como uma web série. Não conseguimos gravar ainda, infelizmente, porque a pandemia cessa um pouquinho, depois ela piora e, mesmo assim, o espetáculo requer algumas cenas de aglomeração. Então a gente preferiu não correr esse risco agora e nem pôr as pessoas em risco.”

Com a flexibilização para realização de eventos em algumas cidades, espaços culturais têm, aos poucos, reaberto suas portas. Porém, o formato de apresentação online deve ser uma tendência nos espetáculos presenciais de teatro num momento pós-pandemia.

A atriz, professora e pesquisadora Juliana Calligaris reflete sobre o futuro da área, após a experiência das apresentações virtuais. “Redes sociais são o público e as lives têm sido a extensão do público. Formas híbridas de espetáculos que são gravados e depois são exibidos em forma de temporada online, tem no chat ao vivo a interação com a plateia”, conta ela.

A produção da peça Janelas para Uma Mulher, da qual Calligaris participa, foi gravada e disponibilizada para o público no YouTube. “O alcance com o público e outras formas de interação já se estabeleceram e já fazem parte da estética de muitos espetáculos concebidos para alcançar e interagir com o público dessa forma. O acesso ao público e a recepção da obra através das mídias sociais já é parte da concepção cênica dos espetáculos.”

A peça pode ser assistida gratuitamente.

Apoio governamental

O projeto, assim como vários outros, foi contemplado com recursos provenientes da Lei Aldir Blanc, artista que morreu vítima de Covid em maio de 2020. A lei garante financiamento de projetos artísticos com subsídios do governo. Em contrapartida, o projeto precisa garantir a gratuidade para o público e prestar conta para com o município onde o projeto está inscrito. Por conta da pandemia, projetos com transmissão via internet ou hospedagem em meio virtual foram os mais aceitos para garantir segurança sanitária para os profissionais e o público.

Somente na cidade de Curitiba mais de 900 projetos foram contemplados com auxílios que ultrapassaram R$ 8 milhões, de acordo com último edital da Fundação Cultura de Curitiba. Desde abril de 2021, os debates sobre a lei voltaram à Câmara Municipal da cidade, quando artesões trouxeram ao conhecimento da Comissão de Educação, Cultura e Turismo, as dificuldades durante a pandemia, apesar dos recursos públicos.

A atriz, diretora e dramaturga teatral Gisele Jorgetti, que atua na cidade de Hortolândia, em São Paulo, destaca a importância da lei. “Veio a Lei Aldir Blanc para dar um pouco de alento aos profissionais, mas infelizmente a lei não conseguiu contemplar a todos. Teve cidades aqui do Brasil que a verba nem conseguiu ser distribuída, pela questão do tempo que foi muito corrido, dos municípios terem que se organizarem, enfim. Quem conseguiu apoio da lei e migrar para o ambiente online, conseguiu um pouco de alento.”

Orientação: Guilherme Carvalho (professor de Jornalismo).


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