Atividade física contribui na melhoria da capacidade motora e da socialização de autistas

Mas acesso a serviços especiais ainda é um desafio para grande parte das famílias brasileiras

A prática de atividade física é recomendada como um hábito de vida saudável. No autismo não poderia ser diferente, sobretudo se os comportamentos típicos surgirem na infância. Os estímulos motores nesse período da vida vão trazer grandes benefícios, auxiliando na evolução física e na relação com outras pessoas.

Priscilla Boaventura é mãe de uma criança de 6 anos, diagnosticada com autismo desde os 2. Ela revela que a atividade física trouxe uma grande evolução motora e cognitiva ao seu filho. “Vejo uma mudança muito grande desde que ele começou a fazer atividades psicomotoras e o desenvolvimento dele é absurdo, pois o autismo dele vem acompanhado de uma hipotonia muscular. Então, o exercício físico faz com que ele mantenha melhor o equilíbrio e a postura, além do benefício cognitivo e comportamental, do saber esperar, obedecer a regras e inclusive do emocional, em que a atividade física regula as emoções”, conta.

Com o maior conhecimento e a evolução no tratamento, especialistas incentivam a prática de atividade física e esportiva como uma ferramenta essencial para uma maior interação dos pequenos. É o que explica Thiago Cavalcante, psicólogo, mestre em análise do comportamento e especialista em autismo: “A atividade física tem o potencial de auxiliar as crianças nas mais variadas facetas. A gente tem a questão do desenvolvimento de habilidades e temos a própria questão da regulação sensorial, que é algo relevante e importante, tanto que os meus pacientes mais graves com TEA, a gente recomenda de forma bem clara o trabalho do educador físico”.

O diagnóstico do transtorno ainda causa sentimentos de medo e preocupação, principalmente pela pouca informação que os pais possam ter sobre como agir. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existem cerca de 70 milhões de pessoas no mundo vivendo com algum grau de autismo. O TEA é reconhecido como uma condição do neurodesenvolvimento que afeta as habilidades de comunicação social e os padrões de comportamento. Inclusive, o comportamento, em alguns casos, pode interferir na prática de atividades motoras.

“Eu tenho pacientes mais graves que têm uma série de comportamentos que podem se tornar incompatíveis ou mais difíceis de desenvolver a prática. Não é que inviabilize, mas demanda uma prática mais estruturada, fragmentada, utilizando elementos menores”, explica Cavalcante.

Os profissionais de educação física também vêm se especializando no acompanhamento do autismo para aumentar a sua capacidade de auxílio no tratamento. A professora Thatiane Andrade, especialista em TEA, reforça a ideia de uma atividade prazerosa. “É através do movimento e das experiências vivenciadas durante a prática que as crianças desenvolverão suas habilidades psicomotoras e cognitivas, auxiliando também na diminuição do comportamento estereotipado e da falta de interação social. Ressalto que todo planejamento com autistas deve ser realizado de forma prazerosa e respeitando o limite de cada um”, recomenda ela.

Direitos dos autistas no Brasil

Apesar do aumento de informações e campanhas de conscientização de respeito, o acesso dos autistas ao acompanhamento adequado, com profissionais de saúde e escolar, ainda fica limitado aos mais favorecidos economicamente. O atendimento especializado ainda é restrito e enfrenta muitas barreiras no país, sobretudo no serviço público.

Com base nisso, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) criou o Projeto de Lei 3.035/20, que institui a Política de Educação Especial e Inclusiva para atendimento às pessoas com transtorno mental, transtorno do Espectro Autista, deficiência intelectual e deficiências múltiplas.

De acordo com o projeto, que tramita na Câmara dos Deputados, as escolas de educação básica deverão promover a adaptação do ambiente, sem custos adicionais para pais ou responsáveis. Além disso, o projeto também prevê a inserção de um professor especialista em educação especial nas turmas que contenham alunos nestas condições.

Já a Lei 13.977/2020 criou a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea). Trata-se de um documento de identificação destinado a todas as pessoas com autismo no Brasil. A lei tem o nome de “Lei Romeo Mion”, em referência ao filho do apresentador Marcos Mion que tem TEA.

No Brasil, ainda não existem números oficiais sobre pessoas com autismo, porém, a Lei Federal 13.861/2019 obriga o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a inserir no censo perguntas sobre o autismo. A estimativa é que existam cerca de 2 milhões de pessoas com TEA no país.

Orientação: Guilherme Carvalho (professor e jornalista).

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