Alfabetização de crianças durante a pandemia é um dos grandes desafios da educação

Professores e pais relatam dificuldades de adaptação ao ensino remoto. Realidades divergem e incerteza sobre retorno às aulas presenciais acompanha a ausência de perspectivas para vacinação de crianças

A alfabetização de crianças representa um dos maiores desafios da educação e fundamental desde a implantação das aulas remotas ou híbridas. As dificuldades para adaptação dos métodos de ensino para aulas não presenciais e também as limitações tecnológicas podem resultar em uma geração semianalfabeta ou com atrasos graves na aprendizagem.

Segundo a Base Nacional Comum Curricular brasileira, o domínio da leitura e da escrita, ainda que em fase inicial, deve ocorrer nos 2 primeiros anos do ensino fundamental. No país, o cenário que já era precário, com cerca de 50% das crianças nessa situação, pode ter um aumento em até 70% com as escolas fechadas, de acordo com relatório do Banco Mundial.

Os professores têm passado por um processo de adaptação para planejar e executar aulas. O uso exclusivo da tecnologia para alfabetização era algo incomum, até então, para parte dos docentes.

A professora Jucinélia Santos, de uma escola da zona rural na cidade de Lagarto, no agreste sergipano, lamenta a perda na aprendizagem e reforça a importância dos professores na fase inicial. “É na escola que a criança vai ter uma inquietação por descobrir. Eu creio que, salvo o fato de os pais estarem mais próximos da educação de seus filhos, não há uma evolução educacional. Esse tempo de pandemia reforçou que nós professores temos uma importância e necessária tarefa de ressignificar as oportunidades de nossos alunos.”

Dados preocupantes

O censo escolar, disponível no portal do governo federal, indica que o país obteve mais de 47 milhões de matrículas no ensino fundamental no ano de 2020. Com o início da pandemia e o fechamento de escolas, o MEC recomendou para os anos iniciais do ensino fundamental que as instituições públicas e privadas orientassem as famílias com roteiros práticos e estruturados. Em muitos casos a tecnologia para aulas virtuais tem sido fundamental.

Estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na Educação aponta que em novembro de 2020, mais de 5 milhões de crianças não tiveram acesso a educação no Brasil, sendo mais de 40% entre 6 e 10 anos de idade. Além disso, o estudo mostra que a exclusão atingiu mais que já vivia em situação vulnerável, como em regiões com acesso limitado ou inexistente à internet ou a sinais de TV.

A professora Maria Souza, do 2º ano do ensino fundamental em uma escola particular de Aracaju (SE), conta como tem sido este processo. “Tivemos que aprender um novo formato de ministrar as aulas. No começo foi um grande desafio, pois sempre tivemos o ensino tradicional, em sala de aula. Porém, tivemos aspectos positivos, como a evolução dos professores e alunos com a tecnologia e o maior interesse dos pais na aprendizagem de seus filhos.”

Outro lado

Monike Maia, mãe de uma criança do 1º ano do ensino fundamental de um colégio particular em Aracaju, destaca pontos positivos no ensino remoto. “Foi muito difícil no começo por conta de toda situação caótica que nos encontrávamos, a grande magia foi vivenciar cada descoberta no processo de alfabetização, e hoje conseguimos acompanhar mais de perto cada dificuldade”, diz ela.

O governo de Sergipe oferece aulas virtuais pro meio da TV oficial do estado, além de materiais editados pelos professores. As escolas particulares optaram pelo ensino em tempo real com aplicativos ofertados para reuniões. A adaptação ao ensino remoto tem exigido muito acompanhamento, atenção e cuidado com os alunos, principalmente dos pais.

No Paraná, desde o início da pandemia, a Secretaria de Estado de Educação disponibilizou o “Aula Paraná”, com videoaulas transmitidas pela TV aberta e YouTube, além do aplicativo que permite a interação em tempo real de professores e colegas.

Aulas presenciais

Em março deste ano, o Banco Mundial lançou um comunicado à imprensa pedindo para que os governos agissem para abrir de forma segura as escolas. O objetivo seria de reverter o quadro de “pobreza de aprendizagem”, medida pela quantidade de crianças de dez anos com graves dificuldades de leitura.

Para a médica infectologista Fabrizia Matos, sem os cuidados e com o retorno às aulas presenciais, as escolas podem ser grandes fontes de transmissão de Covid-19. “Não enxergamos a relação do aumento com o retorno às aulas, pois as escolas têm se enquadrado nos protocolos sanitários. Mas com o aumento do descumprimento de algumas medidas em ambientes externos, como áreas de lazer, as crianças também aumentam sua exposição ao vírus. Nós recomendamos que os pais e escolas estejam atentos aos sintomas precoces de crises respiratórias.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não recomenda a vacinação de crianças como prioridade devido à ausência de doses para atender a todos, mas solicita que os protocolos de segurança sejam seguidos rigorosamente.

Casos de Covid-19 em crianças

O número de casos de Covid em crianças em 2021, no Paraná, aumentou 113%, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde.

Farmacêuticas estão em fase final de testes para iniciar a imunização de crianças. A Pfizer anunciou, no dia 8 de junho, que iniciará os testes com um grupo maior de crianças com menos de 12 anos. Já a farmacêutica Moderna informou, em 10 de junho, que vai pedir autorização de uso emergencial de sua vacina em crianças entre 12 e 17 anos.

Orientação: Guilherme Carvalho (professor de Jornalismo).


Para ir além

A crônica não mata – Parte 6

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