Orquestras são como artigos de museu?

Mesmo que haja essa pompa e aparato ao redor do ambiente orquestral uma orqu

Ao pensarmos em uma orquestra, a imaginamos tocando música clássica. Mesmo que ela tenha se inserido em outros estilos musicais, ela é um organismo tão antigo na história da música, que não a desassociamos da música dos séculos XVII, XVIII e XIX. Mesmo sendo meu ambiente de trabalho, por vezes eu sinto que as orquestras pararam no tempo. Usamos os mesmos instrumentos, roupas, repertório e comportamento desde o século XIX, mas nem sempre foi assim.

Até o século XVI, na Europa, a música era majoritariamente vocal, porque era associada à devoção religiosa. A música instrumental já existia, sem dúvidas, só não temos registros dela, pois era uma expressão popular, de tradição oral, que se transformou com o tempo sem ser documentada. No período barroco isso muda de figura e aparecem os primeiros registros de grupos instrumentais. Bem menores e diferentes do que as orquestras atuais, as orquestras barrocas eram filhas de seu próprio tempo. Antes do século XVII não haviam músicas particularmente escritas para instrumentos, então toda a produção de uma orquestra barroca era necessariamente contemporânea. Sem o advento das gravações, toda vez que se desejava ouvir música era preciso tocá-la, por isso os compositores barrocos são os que apresentam mais largo repertório – eles estavam inventando uma tradição.

No classicismo, no século XVIII, a orquestra se consolidou como a conhecemos. Durante o período diversas modificações foram feitas em sua formação, mas é ali que temos um estabelecimento de quais seriam os instrumentos básicos da formação e em que quantidade. Nesse período também surgem três dos nomes mais associados à música orquestral: Haydn, Mozart e Beethoven. Esse trio é o grande responsável por consolidar a forma musical sinfonia, que é o tipo de música que imaginamos que uma orquestra irá tocar.

Beethoven é um grande marco para a história da música devido às liberdades que se deu. Com sua nona sinfonia ele inovou em muitos aspectos que para nós hoje parecem normais, até datados, mas ainda não tinham sido explorados. O conceito de obra musical para a posteridade nasceu junto com a nona sinfonia e isso alterou o pensamento de uma geração. Depois dessa obra todo compositor queria compor algo de similar presença e magnitude. Com isso as orquestras começaram a crescer mais e mais e chegaram a ter 120 músicos no palco, por vezes junto a elas há um grande coro.

Nem só de sinfonia vive a orquestra

A forma sinfonia não foi tão preservada durante o século XIX. Os compositores a achavam restrita criativamente, devido ao seu ritual (4 movimentos, sendo o 1.º rápido, 2.º lento, 3.º em dança e 4.º rápido), e começaram a inventar outras maneiras de nomear suas músicas. Os mais famosos são os poemas sinfônicos, mas há também as grandes orquestras de ópera, ballet e os concertos para instrumento solista e orquestra.

Fato é que no século XIX a orquestra explorou muito do que tinha a oferecer, em muitos termos, inclusive econômicos, e ao chegar no século XX se viu esgotada. A produção de música orquestral nunca parou, mas tomou nova forma, menor quantidade e menor popularidade. A produção orquestral começou a ser associada a filmes e a outras artes, pois era difícil conceber a orquestra sozinha, ela era bastante cara para uma Europa em guerra. 

E então surgiu a indústria fonográfica.

Com a possibilidade da gravação diversas orquestras começaram a canonizar um repertório que foi gravado por grandes orquestras. A produção contemporânea para orquestra foi se tornando menor e só compositores renomados conseguem ter suas peças tocadas por grandes orquestras ainda em vida. Com isso o repertório tradicional vai até o começo do século XX, depois tudo que há para orquestra é entendido como contemporâneo, então não é canônico e não é tocado com frequência, infelizmente. Parece que o mesmo aconteceu com o funcionamento da orquestra, ou do concerto. O ritual se firmou na maneira que conhecemos a três séculos e foi canonizado dessa forma. Quando vamos a um concerto esperamos que as pessoas estejam com determinada roupa, que os músicos se organizem de determinada forma e que as pessoas se comportem de determinada maneira

A orquestra pode estar em todo lugar

Mesmo que haja essa pompa e aparato ao redor do ambiente orquestral uma orquestra pode ser plural. A contemporaneidade a coloca em diversas situações inusitadas, tanto musicais quanto sociais. Na internet circulam vídeos de orquestras em praças, em shows acústicos de bandas de rock, em cinemas, tocando músicas muito esquisitas e quebrando o estereótipo que carrega devido a quatro séculos de tradição. As orquestras estão vivas e querem ser ouvidas, seja em sua tradição ou em sua modernidade.

Deixo abaixo sugestões de vídeos como um convite para (re)conhecermos o que orquestras podem fazer:

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