O tema da coluna de hoje está presente em nossas empresas, tanto quanto o cafezinho fresco que oferecemos aos colaboradores!
As condutas adotadas no ambiente de trabalho definem o relacionamento não só entre empregador e empregado, mas também entre colegas de trabalho.
A adequação de condutas se relaciona diretamente com a redução de riscos de ações trabalhistas, e também demonstra ao seu cliente, o esforço da sua empresa para gerar um ambiente saudável aos seus colaboradores.
As relações interpessoais merecem um destaque especial no momento de tratar com seus funcionários. Não só a busca pela equidade, e esforço para garantir as mesmas oportunidades, mas também evitar condutas aparentemente sutis que podem ser prejudiciais no ambiente corporativo.
Nesse sentido, as condutas adotadas entre homens e mulheres é um tema que merece mais atenção. Como falas desqualificadoras em relação às mulheres, comentários opressores, empecilhos para promoção, enquanto homens parecem conquistar outros patamares de forma muito rápida.
O machismo está tão presente em nossa sociedade, que nem a ministra Cármen Lúcia escapou de episódios dessa natureza. A ministra compartilhou em sessão plenária do STF um episódio que viveu.
Um entregador chegou em sua casa, com um documento a ser entregue a uma autoridade. Todavia, para surpresa do entregador, naquela residência morava uma mulher. Ele, confuso, então indagou: “afinal, aqui mora uma autoridade ou uma mulher?”
Ao compartilhar o episódio a nobre ministra teceu considerações sobre o machismo estrutural, e como a mulher já ocupa um papel inferior, somente por ser mulher. Os obstáculos enfrentados diariamente por mulheres no ambiente profissional demonstram a necessidade de mudança de comportamentos.
Mas o que pode ser feito para combater tais práticas no ambiente de trabalho?
O machismo é um tema que está longe de ser reservado aos relacionamentos domésticos. Ele está ligado com o compliance das empresas, pois dentre os preceitos éticos a serem seguidos por uma empresa, a adequação de tratamento aos colaboradores é fundamental, especialmente quanto ao respeito.
O machismo está diretamente relacionado com a compreensão de superioridade masculina. Também vincula-se à opressão da mulher, preconceito e crença da inferioridade da mulher.
Essas condutas praticadas pelos gestores e colaboradores, em geral, podem gerar reflexos negativos à empresa, e até ações indenizatórias visando uma reparação por um dano decorrente de episódio de assédio moral.
No sentido de proteger sua empresa, é importante compreender algumas condutas que são consideradas como machismo, vamos lá?
Primeiramente, tem-se o mansplaining, conduta em que um homem explica o óbvio à uma mulher, subestimando sua inteligência.
Além disso, a interrupção constante das mulheres, o manterrupting, como um episódio clássico vivenciado pela atual vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, em que ela foi interrompida em um dos debates durante as eleições pelo seu rival.
Ela utilizou a frase “mr. vice president, I’m speaking”, (sr. vice-presidente, eu estou falando), em razão das constantes interrupções durante a sua fala. E repercutiu, em razão de sua coragem ao combater a atitude em rede internacional.
Outra conduta muito comum no ambiente corporativo, é quando um homem toma o crédito por uma ideia ou iniciativa de uma mulher (bropriating). Isso demonstra desrespeito e desconsideração com a mulher.
Além dessas condutas, ainda existe a manipulação psicológica (gaslighting), em que o agressor desqualifica sua vítima, fazendo-a duvidar de sua inteligência, ou sua memória. Essa conduta vem acompanhada de comentários sinalizando que a mulher está louca, ou exagerando em algo.
Os temas acima são exemplificativos, pois o rol de condutas machistas infelizmente é longo.
No sentido de manter a sua empresa protegida, é importante adotar políticas que combatam esses comportamentos, iniciando, por exemplo, por campanhas informativas, e prosseguindo com orientações aos colaboradores.
Em caso de prática de uma dessas condutas, é importante que a vítima tenha canais, como o RH, para receber as denúncias, e que a empresa adote um procedimento para solucionar, inclusive com medidas disciplinares ao agressor.
Sessões de mediações têm sido utilizadas por grandes empresas para resolver problemas dessa natureza. Dessa forma, a vítima é acolhida e escutada, e o agressor tem a possibilidade de rever seus comportamentos.
O combate à desigualdade é necessário à sociedade como um todo, e também seu dever enquanto empresário ou empresária. É preciso tomar consciência dessas condutas, e combatê-las para auxiliar na criação de um ambiente profissional saudável, seguro e ético.
Sobre o/a autor/a
Leticia Beltrami
Advogada, formada pela Unicuritiba em 2015. Sócia na Beltrami & Oliveira Sociedade de advogadas. Atuante na área de direito contratual, com foco em relações de consumo.