Do meu tempo de aulas de português do colégio, o que mais lembro é de conjugar verbos e da temível análise sintática – pesadelo que fazia a matemática parecer fichinha. Depois do colegial, o moleque quer ser qualquer coisa nessa vida, menos sujeito, verbo ou predicado.
Mais tarde a didática passou a ser bem mais dinâmica e interessante, misturando com literatura, o que tornou tudo mais palatável; mas no meu tempo ainda usava-se uma metodologia bastante formal, que só despertava o interesse de quem já tivesse propensão para o estudo. Assim, no meu caso, o gosto pelas letras veio do convívio familiar, dos meus queridos pai e avô.
Mas só conto isso para colocar em pauta o tal Futuro do Pretérito do título, e o que ele pode ter a ver com a temática desta coluna.
Trata-se, como se sabe, de um tempo verbal que se refere a um fato que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação passada.
Mas quando garoto eu dava outra interpretação. Para mim, Futuro do Pretérito era como uma coisa do passado que houvesse desaparecido, e depois novamente voltasse a aparecer. Tipo assim como censura ou regime militar, esses absurdos.
Tem muita gente hoje em dia despertando para a ideia de resgatar as boas coisas do passado, achando que seria um bom Futuro se voltássemos um pouco ao Pretérito, nas coisas boas da vida: a comida natural, o ovo caipira, as verduras orgânicas, se possível ter a própria horta, o bem estar que se sente ao andar de cavalo, de carroça ou até mesmo de bicicleta ou à pé, e deixar o carro em casa. A vida em comunidade, as boas amizades, e por aí adiante.
Porém, em uma civilização que já produziu excrescências como a escravidão, a inquisição e o holocausto, certas coisas do passado não deixam saudade, nem merecem reviver. Embora possa haver, e realmerne haja, quem pense exatamente o contrário.
Portanto, o Futuro do Pretérito das relações de trabalho vem acontecendo com as novas tecnologias – que, em verdade, acabam revivendo prática bastante perversa, qual seja, a prestação de serviço sem vínculo de emprego, sem carteira assinada, sem férias, sem décimo terceiro salário, sem FGTS, sem seguro-desemprego, sem aposentadoria, sem contribuir para o INSS.
Isso vem ocorrendo com uma legião de motoristas, entregadores e outros profissionais.
O Direito do Trabalho é o ramo mais novo do Direito; nasceu com a revolução industrial, e todo o fundamento consiste, justamente, em uma única coisa: tentar impedir a exploração exagerada do trabalho alheio.
Do meu ponto de vista, acredito que muitas pessoas vem se enganando. Acreditam que essa nova forma de trabalho se constitui em oportunidade, e que é melhor assim do que não ter emprego nenhum.
Não é admissível que a banalização, a precarização do trabalho, permita que o esforço mal remunerado de muitos, sirva para enriquecer uns poucos.
Sobre o/a autor/a
Vicente Moraes
Vicente Moraes é advogado especializado na área trabalhista, com uma carreira jurídica de mais de 40 anos. Escritor, poeta e músico, nas horas vagas gosta de fazer doce de goiaba.