Água e comida

É necessário haver espaço para aqueles que têm mais dificuldades para sobreviver

Água e comida.

É onde tudo começa.

Se tem uma coisa certa nessa vida, é que a gente precisa comer todos os dias. Todo santo dia. Vai daí que a gente precisa batalhar para conseguir a comida de todos os dias. E isso se faz urgente, todos os dias.

Para se sustentar, as pessoas lançam mão de milhares de atitudes; dentre elas, empreender, ou arranjar um emprego.

Em toda a atividade lucrativa, ou da onde se pretende tirar lucro, existem perdas e ganhos.

Vejamos:

Se você pretende plantar e vender sua produção, alguma parte acaba se perdendo – perece sem ser vendida, e você fica no prejuízo. Mas se no resultado final existe lucro, as perdas são aceitáveis, você absorve o prejuízo, permanece na mesma atividade, porque está dando lucro.

Se você for comerciante, lida com encalhe, com avarias involuntárias, eventuais furtos, desvios ou mesmo falhas.

No ramo de alimentação, nem se fale; sempre tem o prejuízo, que precisa ser coberto pelos lucros.

Posso imaginar uma lista enorme de exemplos, mas o essencial de qualquer negócio é dar lucro, senão a coisa não tem sequer razão de existir.

Então, é sempre assim. Algumas coisas que dão prejuízo acabam sendo suportadas, em prol de outras que dão lucro, com resultados positivos no final das contas.

Mas me dá a impressão que com o material humano não é assim. Mesmo numa empresa lucrativa, e com muitos empregados, não se tolera que alguns possam dar prejuízo, mesmo existindo muitos outros que dão lucro.

Costuma haver uma intolerância ao empregado desidioso (leia-se, folgado), o que é compreensível, mas também uma intolerância muito grande com empregadas gestantes e com empregados doentes. 

Pior ainda quando quando trata-se de doença psiquiátrica, que muitas vezes é confundida com malandragem ou vagabundagem. Se um sujeito cai, quebra a perna e tem que engessar, seu problema é facilmente compreendido por qualquer pessoa. Com doenças da mente não é bem assim, infelizmente.

Claro, não falo aqui das muitas empresas que valorizam o seu pessoal, mantêm plano de carreira, fundos de pensão e ajuda, enfim, que praticam uma gestão de pessoal humana e interessada no bem estar dos empregados.

Mas, infelizmente, também são muito numerosos os casos de desrespeito e de abuso do chamado “poder diretivo” do empregador, que é basicamente o poder de “mandar” no empregado. Inclusive mandar embora.

Esse poder diretivo também tem limites, assim como acontece com praticamente todos os direitos existentes numa sociedade organizada.

Exemplo disso foi um recente julgamento do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais, que teve destaque no site do Conselho Superior da Justiça do Trabalho, onde foi reconhecida a ocorrência de uma despedida discriminatória, por conta da empregada sofrer de depressão e síndrome do pânico.

Nesta decisão entendeu-se que a empresa agiu com abuso de poder, ao dispensar a empregada logo após a alta médica e o gozo de férias, e ignorar a importância do trabalho para a recuperação da pessoa com doença psiquiátrica.

O julgamento baseou-se, entre outros fundamentos, na Súmula 443 do TST que diz que “Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador de virus HIV ou de outra doença grave, que suscite estigma ou preconceito”.

Bom esclarecer que trata-se de um caso específico, em que vários fatores levaram o julgador a tomar sua decisão; não significa que todos os portadores de doenças psiquiátricas tenham estabilidade no emprego. Não se trata disto.

Para mim parece claro que, quando se trata de uma empresa com muitos empregados, a possibilidade de alguns adoecerem e não apresentarem o melhor desempenho, é proporcionalmente maior. Vai acontecer sempre. Não é possível querer ter apenas empregados total e integralmente producentes. 

É necessário que também haja espaço para aqueles que têm mais dificuldades para sobreviver.

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