Avanço da energia solar esbarra na falta de incentivos

Popularização da tecnologia que poderia reduzir significativamente a conta de energia elétrica dos consumidores e amenizar os riscos de apagão depende da redução dos custos de instalação. Pesquisas indicam potencial para adoção do sistema fotovoltaico na região de Curitiba

A possibilidade de reduzir os custos com energia elétrica tem feito muitos brasileiros revisarem seus planos financeiros. O aumento previsto para este mês, com a “bandeira escassez hídrica”, e a inflação em alta, tem forçado a busca por outras fontes de energia. No Brasil, ainda é bastante tímida a procura por fontes alternativas, apesar do potencial existente. A energia solar ou fotovoltaica, por exemplo, representa menos de 2% do total consumido no país em 2021.

Atualmente são pouco mais de 500 mil sistemas de energia solar conectados à rede que atendem mais de 650 mil pessoas ou perto de apenas 3% dos brasileiros, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Dos pouco mais de 6 gigawatts instalados, 75% estão no sistema residencial e 15% no comercial. Apesar da grande incidência de sol no “país tropical”, não se observam políticas públicas de incentivo ao uso ou desenvolvimento tecnológico de energia solar. A matriz elétrica do país permanece bastante dependente dos recursos hídricos ou combustíveis fósseis, que provocam impactos ambientais ou são grandes poluentes.

O Paraná é o quarto estado na geração de energia solar, perdendo apenas para Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, respectivamente. Isso graças a iniciativas privadas. A Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), a exemplo das demais empresas que atuam na distribuição, não oferece incentivos e nem projetos para popularização da energia solar, embora tenha liberado recursos para pesquisas e mantenha em seu site uma área específica para os interessados em fazer a migração. A explicação é simples. Um grande contingente de pessoas adotando o sistema de energia solar causaria prejuízos significativos nos lucros da empresa que vem batendo recordes de faturamento e que pretende pagar altos salários a conselheiros

Se o sistema é mais barato, desonera o sistema hidrelétrico, evita crises energéticas e é mais benéfico para o meio ambiente e para os consumidores, o que falta para incentivar e baratear os custos para o uso da energia solar no Brasil? Por que não abrir linhas de crédito para que famílias tenham condições de instalar o sistema em suas casas ou para que empresas também tenham esta oportunidade?

Pesquisa de referência

Regulamentada em 2012, o uso da energia por sistema fotovoltaico tem mobilizado pesquisadores brasileiros. Uma das referências do país é o Laboratório de Energia Solar (Labens) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Lançado em dezembro de 2017 pela UTFPR, o grupo monitora a capacidade de geração de energia a partir da irradiação solar no estado.

As condições meteorológicas locais, qualidade do ar e fatores astronômicos incidem sobre a eficiência do sistema. Nebulosidade, concentração de gases atmosféricos,  movimentos orbital e de rotação da Terra estão entre os fatores que afetam os resultados. Regiões com menos incidência de sol, por exemplo, tendem a ter gerações menores de energia. Por isso, as estações do ano tendem a provocar alterações no aproveitamento, sobretudo em regiões subtropicais.

De acordo com o Atlas Brasileiro de Energia Solar (2ª edição), publicado em 2017, do qual também participa o Labens, duas regiões do país apresentam condição menos favoráveis: a região amazônica, devido ao grande volume de chuvas, e a região do sul de São Paulo, ao sul de Santa Catarina, pelo lado leste.

Curitiba estaria dentre os locais menos propensos ao uso eficiente de energia solar. Porém, em sua tese de doutorado, o professor Gerson Máximo Tiepolo, um dos responsáveis pelo Labens, indica que a cidade apresenta resultados muito favoráveis. Mesmo em dias nublados as placas captam irradiação do sol superior a países em que o clima é desfavorável e o sistema está mais popularizado, como Alemanha, Espanha e Portugal. Além disso, o frio favorece a produtividade dos módulos fotovoltaicos, elevando a produção de energia solar, e a altitude da cidade, perto dos 900 metros, também é um fator positivo.

Valores

O maior empecilho para o crescimento da energia solar no Brasil está no custo de instalação. A placa fotovoltaica (módulo), composta de alumínio, vidro, silício, filme plástico, é um dos componentes mais caros do sistema. Porém, os valores reduziram bastante. Hoje o preço gira em torno de R$ 1.000 por placa. No entanto, a instalação de um sistema residencial envolve outros custos como bateria, inversor, instalação elétrica, entre outros equipamentos. Uma casa com custo mensal aproximado de R$ 300 deve gastar entre R$ 15 e R$ 20 mil para ter geração de energia solar, conforme consultado com duas empresas do setor que atuam em Curitiba. Ainda assim, o valor tem caído nos últimos anos, graças à importação de equipamentos chineses.

O custo, em geral, é pago entre 4 a 5 anos após a instalação a partir da economia com a conta de luz. O sistema ligado na rede de energia elétrica, compensa o uso que vem da distribuidora, gerando créditos para o usuário. Neste formato, ainda que o sistema de energia solar não tenha carregado o suficiente, o consumidor poderá utilizar a energia da rede. A estimativa, de acordo com uma das empresas consultadas, é de 85% de economia.

A promessa também é de um baixo custo de manutenção e garantia dos equipamentos instalados. No geral, o sistema é promissor, mas falta interesse governamental.

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