Um estalo na altura da nuca

Ninguém diagnosticou meu AVC transitório. Quatro dias depois, veio o derrame

Era sexta-feira, dez de maio. Saí do trabalho e fui para o centro. A ideia era ir ao aniversário de um amigo, no Jokers, mas a entrada era cara e eu estava precisando economizar. Então, esperei o aniversariante chegar para dar parabéns junto com um outro amigo. Depois, eu e esse outro amigo tomamos um chope no bar da frente. Foi um chope e uma conversa linda, esclarecedora, em que resolvemos diversas pendências.

Depois deste UM Chope voltamos para a frente do Bar do Fogo e fui ao banheiro. No retorno pensei em pegar outro chope (afinal era sexta-feira) mas eu estava com uma dor de cabeça forte.

Desisti do chope e continuei a conversa. Como esse meu amigo é alto, eu estava olhando para cima quando senti um estalo na altura da nuca. Do estalo subiu uma dor que se espalhou pelo meu crânio, como se fossem galhos de uma árvore.

A dor era muito forte e resmunguei de dor e resolvi chamar um Uber para casa. O amigo estranhou, ofereceu ajuda mas eu só queria estar em casa.

Cheguei cansada, acendi a luz da sala e me abaixei para dar comida para os gatos (na época eram três). Abaixar fez com que eu levasse uma “pancada” na cabeça. A dor ficou tão forte que tive a sensação de estar cega. Apaguei as luzes.

Deitei na cama, mas não conseguia dormir. Pedi ajuda num grupo de WhatsApp. Uma amiga pegou o carro e estacionou bem em frente ao meu prédio.

Eu sentia muita dor, mas consegui pegar o meu casaco e a carteirinha do plano de saúde com a identidade. Quando entrei no carro, minha amiga disse que eu estava pálida e minha mão esquerda, gelada. Eu não estava sentindo a minha mão.

Fomos no primeiro hospital. Lembro que tive dificuldade para sair do carro. Lembro de minha amiga me segurando para conseguir andar pela rampa da entrada, porque eu não estava sentindo meu pé esquerdo.

O primeiro hospital não aceitava meu plano de saúde, mas aceitou que eu passasse pela triagem. Minha pressão estava normal, mas eu sentia muita dor de cabeça.

Fomos para o segundo hospital. Esperamos horas para sermos atendidas. Lembro que quis deitar no chão, minha amiga não deixou. Lembro de ter feito a triagem e mencionado que foi apenas um chope. UM chope. Assim como mencionei no primeiro hospital. Em hospitais as pessoas não gostam de bêbados, quis reafirmar isso para não me mandarem embora.

Esperei mais tempo. Fui atendida novamente e disse todos os detalhes descritos neste texto. Do estalo, da forte dor quando baixei a cabeça. Da fotofobia. Tudo. Perguntaram se eu sentia ânsia de vômito. Sim, eu sentia. Perguntaram se eu tinha usado droga. Eu repeti, UM CHOPE. Não, não uso drogas.

Me levaram para uma maca plastificada. Fiquei muito tempo lá até ser levada para a tomografia. Não podia abrir o olho, a dor era muito forte. Supliquei para me injetarem um remédio para dor. O topo da minha cabeça doía todo, eu sentia uma forte pressão para baixo. A crise estava tão forte que comecei a gritar.

As enfermeiras falavam com a médica, uma delas segurou a minha mão e acalmou meu choro. Adormeci. Acordei e fui liberada, a receita recomendava um remédio para meningite. A tomografia não tinha indicado nada. Voltei para casa andando, um pouco melhor.

Eu tinha sofrido um AVC transitório, uma espécie de pré-derrame que a pessoa tem dias antes de ter um AVC. Mas ele não foi diagnosticado.

No dia 14 de maio, quatro dias depois, fui encontrada por uma outra amiga após um pedido de socorro. O hospital, o mesmo em que havia feito a tomografia, constatou que eu era vítima de AVC hemorrágico e fui direto para a cirurgia de emergência.

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