Nesta jornada em busca do restabelecimento da minha saúde mental, eu fiz amigos e conheci pessoas com histórias incrivelmente interessantes. Porém, eu optei por deixar algumas outras de lado.
A “perda” mais significativa foi uma amiga com quem eu convivia desde a adolescência. Éramos muito íntimas e compartilhávamos nossas vidas há anos. Tínhamos muito em comum. Éramos amigas irmãs. Mas quando o tema da minha saúde mental surgia, ela não conseguia sequer me ouvir. Na época eu não entendia o porquê daquele comportamento negacionista (para usar um termo atual) mas hoje, depois de longos anos sem contato, muitas coisas se esclareceram.
Essa amiga vinha de uma família nuclear bastante disfuncional e teve que, muito cedo, assumir o papel da mãe e ajudar o pai na criação dos irmãos mais novos. Não bastasse isso, ela teve uma filha aos 20 anos e sempre foi muito maltratada pelo pai da criança. Por ser muitíssimo apaixonada por ele, suportou por alguns anos coisas que não deveriam sequer ser toleradas. Depois de se dar conta de que aquele cara não seria um bom companheiro, ela começou uma busca constante por um marido, sem sucesso. Mesmo sendo uma mulher muito bonita, bem-sucedida e inteligente, ela não conseguia manter um relacionamento estável e saudável.
E eu, que na época tinha um marido e não tinha filhos, estava sofrendo com crises de ansiedade. Logo, na concepção dela, eu não tinha nenhum motivo para ter qualquer tipo de crise. Pelo contrário, eu tinha tudo para ser feliz! Em mais de uma ocasião, ela me disse, com todas as letras, que o que eu tinha era uma “pseudo síndrome do pânico” ou uma “pseudo depressão”. Que eu vivia apegada a essa doença e que eu, deliberadamente, não queria melhorar.
Se ouvir isso de um estranho é ruim, ouvir de alguém que sabe das tuas dores mais íntimas é um soco no estômago. Na época, depois de tentar em vão explicar inúmeras vezes o meu ponto de vista, tomei a melhor decisão que pude e me afastei. Foi uma escolha difícil pois eu realmente amava-a como uma irmã. Mas cheguei ao meu limite e entendi que não deveria mais tentar convencê-la daquilo que sentia.
Hoje eu tenho uma outra visão. Creio que ela também estava em sofrimento há muito tempo e que, de alguma forma, negar que havia algo de desequilibrado em mim era negar que havia algo de desequilibrado nela. Era uma forma de se resguardar, se proteger e se convencer que tudo estava bem, que não havia problema algum e “bola pra frente”. Talvez, pela história de vida dela, ela realmente precisasse se comportar assim. Ela tinha uma filha pequena para educar e admitir que precisava de ajuda era estar derrotada.
Na minha visão não era. E o ponto é que por mais próximas que fôssemos, éramos e somos pessoas diferentes. Com histórias e necessidades distintas. E cada um sabe onde sua ferida dói. Se você está com um talho enorme, aberto, sangrando, precisando ser suturado e o outro insiste em dizer que você não tem nada, eu sugiro que você faça como eu fiz. Por mais difícil que seja, se puder, se afaste.
É muito cansativo e desgastante tentar convencer alguém de que o que você sente é real. Ainda, por mais que você tente arduamente, por mais que mostre a ferida aberta jorrando sangue, se o outro já decidiu que você não tem nada, na cabeça dele você não tem nada mesmo e ponto final. Você não vai mudar a opinião de ninguém que não esteja disposto a mudar.
Então, poupe sua energia para mudar a si mesmo. Reserve suas forças para focar em você e no seu processo de cura. Não espere que todos que gostam de você te entendam, te ouçam e te apoiem. Cada um tem suas próprias bestas enjauladas para lidar. E isso sim pode salvar vidas.
Sobre o/a autor/a
Juliana Wisniewski
Juliana Wisniewski é Publicitária (UP 2004), Especialista em Comunicação Estratégica e Negócios (PUC-PR 2006), em Gestão Estratégica (UFPR 2013) e em Filosofia (Estácio 2018). Ama Labradores, Border collies, é uma cantora frustrada e, por um acaso da vida, tem depressão.