Durante dez anos, eu tive uma carreira muito bem sucedida em uma multinacional da área financeira. Entrei nessa empresa aos 20 anos e pedi demissão aos 30.
A última posição que ocupei, durante os últimos três anos, era excelente. Em uma área ligada à comunicação (que é minha formação), eu gerenciava uma equipe muito competente e meus pares eram profissionais do mais alto gabarito. Tinha uma boa remuneração e um bom pacote de benefícios. Eu gostava muito do que fazia.
Porém, as duas pessoas a quem eu reportava – minha chefe e o chefe dela – tinham comportamentos contrários a qualquer ideia de civilidade corporativa. O homem me assediou já no primeiro contato que tivemos. Na primeira reunião a sós. E era um comportamento que oscilava entre o assédio moral e sexual. Gritos e xingamentos enquanto todos olhavam (e para que todos olhassem) e baixinho ele dizia coisas extremamente inapropriadas.
A mulher parecia imitar o mesmo padrão. E, se não me assediava sexualmente, ela desacreditava e colocava em cheque tudo que eu relatava sobre minha saúde mental. Me disse em uma ocasião que corajoso mesmo era o fulano, que mesmo tendo crises de pânico, estava indo passar férias nos Estados Unidos, sozinho e sem falar inglês, para se desafiar. Que eu não parecia ser alguém com depressão pois em várias ocasiões ela me via sorrindo.
Mas a pior para mim foi ter tido todos os meus pedidos de apoio com relação ao assediador ignorados. “É o jeito dele”; “É só brincadeira, ele é casado e jamais faria isso”; “Bem, você é uma mulher bonita e já deveria ter aprendido a lidar com este tipo de situação”. Essas afirmações dela me tiravam o chão. Eram a constatação de que ali, naquele ambiente, eu estava sozinha.
E foram três longos anos assim. Três anos que fizeram com que as crises de pânico – que já existiam – se intensificassem a ponto de eu precisar de um afastamento médico. Três anos que detonaram a minha autoestima profissional – a qual não tenho certeza se já recuperei totalmente. E que fizeram com que eu desistisse de uma empresa que eu gostava, de um trabalho que amava e de um futuro ainda mais promissor. Infelizmente, eu sou a prova de que um ambiente de trabalho ruim pode agravar muito um quadro de transtorno mental. Que é impossível passar oito, nove, dez ou mais horas por dia ao lado de pessoas que te desacreditam e te desrespeitam sistematicamente sem sofrer consequências graves.
Essa mudança de comportamento de quem deseja liderar precisa acontecer para ontem. Afinal, ser um bom líder é, sobretudo, entender muito de comportamento humano. E saber que ética e respeito são imperativos. Que sem eles não existe saúde mental que aguente.
Sobre o/a autor/a
Juliana Wisniewski
Juliana Wisniewski é Publicitária (UP 2004), Especialista em Comunicação Estratégica e Negócios (PUC-PR 2006), em Gestão Estratégica (UFPR 2013) e em Filosofia (Estácio 2018). Ama Labradores, Border collies, é uma cantora frustrada e, por um acaso da vida, tem depressão.