Pronto, virei alvo preferencial dos golpistas

Na estreia da coluna Ninho das Cobras, que reúne um timaço do jornalismo paranaense, Martha Feldens relata suas desventuras com espertalhões

Nesta estreia do Ninho das Cobras quero falar um pouco sobre um assunto indigesto para a maioria das pessoas que se aproximam ou chegam às seis décadas de vida: o momento em que se vira alvo preferencial de golpistas.

Particularmente nós, jornalistas de grande experiência e muita autoconfiança, não estamos preparados para, do dia para a noite, sermos abordados por espertalhões de todos os tipos com as propostas estapafúrdias que tantas vezes noticiamos (e sempre com aquele ar de “como a vítima pôde cair nessa?”) Mas, vão por mim, esse dia chega.

Tem o “militar norte-americano” que viu seu perfil no Instagram, achou você linda, interessante, e quer muito sua amizade. Um mariner simpático, forte, lindo. Outro dia soube por um amigo que os homens também são assediados por “soldadas” incríveis, que também examinam perfis atrás de homens bacanas para uma boa amizade ou quem sabe até um compromisso.

Existe também o “correspondente” da Previdência Social, que aprovou um cartão com inúmeras vantagens para você, só precisa que você confirme alguns dados. Aliás, seria bom saber por que esse pessoal fica sabendo antes mesmo de você que a sua aposentadoria foi concedida.

E, olha, pode parecer mentira, mas não é: até a turma do golpe do bilhete premiado passa a identificar você na rua. Antes das máscaras da Covid, fui abordada perto de casa por uma senhora humilde que procurava um endereço para receber um pagamento por algum serviço prestado. Vi o endereço, rua inexistente no meu bairro (conheço tudo de andar a pé) e já estava seguindo quando se aproximou solícito para ajudar um homem bem arrumado, camisa branca bem passada, barba bem feita. Chegou a falar, mas eu já estava indo embora.

Uma semana depois, fui abordada por um agricultor que precisava achar um endereço para entregar uma encomenda de queijos. Desatenta, parei pra ver o papel com o dito endereço e eis que se aproxima um homem solícito para ajudar. Quem era? o mesmo da semana anterior. Aí foi até engraçado: ele me reconheceu e viu que eu também o reconheci. Os dois fugiram correndo.

A tentativa de golpe do bilhete eu confesso que me bateu. Pensei: tenho perfil de idiota. Ou seria mesmo só uma questão de idade? Por via das dúvidas, melhor prestar atenção aos sinais.

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