Desde que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro deu inúmeras demonstrações de desprezo pela liberdade de imprensa e pelo jornalismo.
Segundo um relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras, apenas de janeiro a março de 2020, Bolsonaro fez 32 ofensas ou ataques à imprensa, sendo 15 ataques diretos a profissionais, dos quais cinco mulheres.
Um tema em especial faz Bolsonaro virar quase que, literalmente, um bicho. As transações ainda nebulosas entre seu filho Flávio e o ex-assessor Fabrício Queiroz, suspeitos de organizar um esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual (e hoje senador) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Questionado sobre o assunto, o ogro que nele habita perde completamente qualquer resquício de compostura.
“Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, disse a um jornalista em dezembro de 2019.
Na mesma entrevista, respondeu a outro repórter que o questionou se tinha comprovantes de empréstimo que dizia ter feito a Queiroz:
“Porra, rapaz, pergunta para sua mãe o comprovante que ela deu para o seu pai, tá certo? Pelo amor de Deus. Comprovante, querem comprovante de tudo”, disse.
No domingo, 23 de agosto, ao ser questionado por um repórter do O Globo, sobre os depósitos feitos por Fabrício Queiroz na conta de sua mulher Michele, Bolsonaro respondeu, com a educação que lhe é peculiar: “Vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado”.
Das habituais agressões verbais, passou a ameaça de agressão física.
Autoritário, prepotente, arrogante, não aceita perguntas incômodas, despreza críticas, ameaça quem ousa questioná-lo ou confrontá-lo.
A reação de Bolsonaro não é e não pode ser encarada como apenas mais uma grosseria. É a confirmação de que ele pode chegar às últimas consequências e ultrapassar todos os limites para defender a família e os amigos – como já tinha afirmado naquela reunião ministerial. Para os seus, tudo, para os inimigos, a lei.
Ele despreza a liberdade e a verdade, faz pouco das instituições democráticas, ataca os demais poderes. Coisa boa isso não vai dar.
Que ninguém se engane: Bolsonaro é o maior perigo que nossa democracia enfrenta desde a redemocratização do país.
Por último mas nem por isso menos importante, a cobra que vive em mim teria dito ao dito cujo que a recíproca é verdadeira. Que minha vontade também é de encher a fuça dele de porrada, mas, porém, contudo, todavia, no meu caso seria apenas um extravasamento momentâneo de meu temperamento ofídico, enquanto que no dele é um comportamento incompatível com o decoro do cargo. Além de ser, obviamente, a demonstração inequívoca do medo – porque a hora da verdade está chegando.
Cavem mais fundo, colegas jornalistas. Investiguem, apurem, revelem. É isso que Bolsonaro teme e por isso ele ataca e ameaça. Follow the money, como já ensinaram aqueles colegas norte-americanos no século passado..
Sobre o/a autor/a
Débora Iankilevich
Débora Iankilevich. Jornalista profissional há 38 anos. Trabalhou em rádios (Clube, Cidade, Educativa) jornais (Gazeta do Povo, Jornal do Estado, Correio de Notícias), assessorias de imprensa, na Secretaria de Comunicação do governo do Paraná e no portal Jornale. Trabalhou em 11 campanhas eleitorais para candidatos a governador, senador, prefeito e deputado.