Cidades biofílicas: em busca da reconexão com a natureza

Cidades biofílicas almejam cidades ao ar livre, proporcionando experiências multissensoriais em todos os espaços livres que extrapolam o urbano

Os seres humanos precisam de contato com a natureza e o ambiente natural. Eles precisam ser saudáveis, felizes e produtivos e levar uma vida significativa. A natureza não é opcional, mas uma qualidade absolutamente essencial da vida urbana moderna.

Timothy Beatley.

Hoje, mais do que nunca, vivenciamos cenários de grandes desigualdades sociais e ambientais nas médias e grandes cidades brasileiras, no qual o modelo urbano revela-se insuficiente e incompatível com as demandas de uma sociedade cada vez mais baseada no consumo e na segregação do espaço urbano. As cidades têm sido planejadas com a bandeira do crescimento econômico cujo discurso remete a uma visão profética que apenas a economia é capaz de tirá-las das crises em que se encontram.

O modelo de gestão das cidades brasileiras foca em grandes investimentos em infraestrutura voltados para garantir a engrenagem das atividades econômicas como: logística, energia e telecomunicações. O mesmo investimento, contudo, não é compatível com o que é aplicado em infraestrutura voltada para as demandas sociais como habitação, saneamento, saúde e educação.

Esta lógica na gestão das políticas públicas, aliada ao grande crescimento demográfico nos últimos cem anos, vem agravando os conflitos socioambientais, visto que a racionalidade econômica não inclui a entropia gerada pelos processos de consumo e produção no planeta. A Terra, atualmente, encontra-se sob a ameaça das mudanças climáticas, esgotamento dos recursos naturais, adensamento demográfico e pobreza generalizada.

Por conta deste cenário, vários pesquisadores vêm questionando esta forma de vivenciar a cidade e de como sua população se relaciona entre si e com o próprio território urbano. Embora o discurso das cidades sustentáveis esteja em alta em várias plataformas de governo, verificamos que a defesa da sustentabilidade encontra dificuldade em confrontar a racionalidade econômica vigente, pois a lógica da sustentabilidade urbana se estrutura nas relações econômicas oriundas ainda da Revolução Industrial. Vemos então as cidades se tornando cada vez mais doentes e o ecossistema urbano ficando cada vez mais desequilibrado.

Por conta desse cenário secular de disruptura do homem com a natureza é que o movimento por cidades biofílicas ganha força no contexto internacional. As cidades passam a ser vistas como organismos vivos dentro de um conjunto de sistemas interdependentes em uma profunda (re)conexão entre natureza e sociedade. Cidades biofílicas entendem o ecossistema urbano por meio de uma visão biocêntrica em busca de sua homeostase.

Cidades biofílicas são cidades de natureza abundante e ricas em biodiversidade, cujos espaços e recursos naturais privilegiam a integração e a interconexão. Cidades biofílicas almejam cidades ao ar livre, proporcionando experiências multissensoriais em todos os espaços livres que extrapolam o urbano. Naturalmente este modelo de gestão exige dos gestores uma nova maneira de conduzir as políticas públicas, fomentando alternativas de geração de renda como a economia verde e circular. 

Contudo, as cidades biofílicas devem ser encaradas como um processo multiescalar de recuperação da paisagem urbana e dos elementos naturais degradados nos municípios brasileiros. Como ferramentas técnicas, as Soluções baseadas na Natureza (SbN) fornecem instrumentos para atuar frente as ameaças das mudanças climáticas, gestão dos recursos hídricos e de riscos de desastres. Esse conjunto de ações busca recriar no ambiente urbano o que já existe e funciona na natureza. Procura, ainda, conectar os corredores verdes (praças e parques) e os corredores azuis (rios urbanos e lagos) em seu território como forma de reestabelecer a biodiversidade e um modo de convívio social mais consciente de seu papel no planeta.

Enfim, as cidades biofílicas procuram fortalecer o sentido de comunidade e de interação com a natureza por meio de sua conservação e restauração, garantindo assim espaços urbanos mais resilientes, saudáveis e inclusivos.

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