Arquitetura e Urbanismo é, antes de tudo, ética!

De um modo geral, permanecemos diante dos padrões globalizados, que nada mais são do que renderizações deslumbradas de uma vida iludida

Um princípio onde se aborda a escolha do “bem comum” (ethos) pelo chamado “construtor principal” (arkhitektôn) é um encontro mais do que necessário. Ele parte do ponto do vazio imaginário do sujeito criador, onde se valida o pensamento singular à sua obra propriamente dita.

Na criação arquitetônica e urbanística buscamos, antes de tudo, afetos. A intuição precede a representação: é um método de invenção de verdadeiros problemas, tornando prazerosa a diferença. Temos que ser levados pelos fluxos sensíveis, mais evidentes na fenda que aloja as experimentações criadoras geradas pela imaginação. Essas são condições para romper com a lógica hegemônica ditada pelas forças sociais e de mercado. Tal como um levante, isso significa uma recusa, e possibilita a materialidade da potencialização de se fazer de outro modo, seja pelo diálogo, pela co-criação, ou pela própria poética. Vale destacar que a poética é uma prática, que além de ética é estética e política, pela potência que concentra em si.

É pela filosofia que encontramos tais raízes. Ao estarmos afastados dela, desconhecemos e assim não percebemos as práticas revolucionárias voltadas à não espetacularização da vida e das cidades. Desta forma, deixamos de oportunizar a negação da mera repetição de modelos estéticos, de fora para dentro e de cima para baixo, quando os descontextualizamos da matriz cultural que nos fundamenta, pela fome e pelos sonhos.

De um modo geral, permanecemos diante dos padrões globalizados, que nada mais são do que renderizações deslumbradas de uma vida iludida. Normalmente, o círculo vicioso da máquina social nos sabota para reproduzir e para nos distanciar do campo do acontecimento, do desejo intensivo e da motivação pessoal.

Sendo assim, pela máquina busca-se o ideal (o teórico), onde o problema é imposto e repete a colonização generalizada que perpetua. A covardia, que não permite a ousadia, é o sentido desta busca. Vivemos em função dos problemas dos outros, do ideal do outro, pela incapacidade de colocar nossos próprios problemas a partir dos elementos afetivos e não teóricos.

Precisamos acontecer, derivar, fazer uso do corpo e das suas linguagens. Pela errância do desejo fundamenta-se um urbanismo experimental, não mapeado, não sentido socialmente como uma crise de valores que possibilita uma imersão em um universo de incertezas, mas também de possibilidades.

E pela alteridade, qualidade do que é outro, marca-se um urbanismo experimental e ousado, que também é empático e, portanto, ético. A nós somente interessa esta busca da restauração da cidade subjetiva.

Texto originalmente publicado na revista Pixo.

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