Aos 106 anos, João Batista Vilanova Artigas continua mais atual do que nunca

Sua extensa carreira possui obras bastante atuais, mesmo passados mais de 70 anos da construção

“Arquitetura, é construção e arte. Arte. Arte não tem livro de regulamento que ensine. Nasce dentro de cada um e desenvolve-se como conjunto de experiências.(…) O valor artístico é um valor perene, enorme, inestimável. É um valor sem preço e sem desgaste. Pelo contrário, aumenta com os anos à proporção que os homens se educam para reconhecê-lo. O valor artístico subsiste até nas ruínas. Os anos correm e desgastam o material, enquanto valorizam o espiritual.”

Vilanova Artigas.

Se estivesse vivo, no próximo dia 23 de junho o arquiteto, engenheiro, urbanista e professor curitibano João Batista Vilanova Artigas completaria 106 anos. Responsável por importantes obras pelo país, que incluem projetos de estádios e hospitais, uma das maiores contribuições de Artigas para a arquitetura e urbanismo foi a elaboração do currículo da FAU-USP, base curricular da grande maioria dos cursos de formação de arquitetos e urbanistas.

A importância de Vilanova Artigas para a arquitetura ultrapassa fronteiras físicas e temporais. Sua extensa carreira possui obras bastante atuais, mesmo passados mais de 70 anos da construção. Em paralelo observamos que a didática do arquiteto permanece. Basta checar a produção arquitetônica de qualidade dos tempos atuais para identificarmos que elas remetem o tempo todo às lições do arquiteto.

A cada geração renovam-se os paradigmas do mestre, dispostos em novas matérias e situações, mas sempre carregando em si a dignidade e o papel que a arquitetura ganhou por meio de Artigas.

No Paraná, isso se expressa com muita evidência. Nossa produção arquitetônica desde a implantação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal, em 1962, segue o arquiteto paranaense que dedicava-se então ao que se convencionou chamar de “arquitetura paulista”, ou “escola paulista”. Os professores que aqui chegaram para formar novos arquitetos carregavam em suas bagagens muitos dos conceitos sempre atemporais de Artigas: a arte de intervir na natureza com sabedoria e respeito aos recursos naturais; a integração do espaço construído para o homem e para a cidade; e a valorização do arquiteto como profissional que chega para melhorar a vida das pessoas.

Em nosso estado há um conjunto de 37 obras de Vilanova Artigas, mas nem todas têm proteção do poder público. Felizmente, no mês de maio deste ano, uma das mais significativas dessas obras, a antiga Rodoviária de Londrina, foi tombada como “Patrimônio Cultural do Brasil”. Com isso, tanto o imóvel como seu entorno, contam, a partir de agora, com proteção nacional.

Em Curitiba, apenas três projetos de Vilanova Artigas resistiram intactos: o Hospital São Lucas, a casa Niclewicz e a casa Bettega. Esta última consegui adquirir em 2002. Na época eu procurava um imóvel para instalar meu escritório e me deparei com uma casa abandonada na Rua da Paz. Nem mesmo tinha certeza do seu autor, mas logo reconheci os valores da arquitetura quando entrei. A ocupação do lote era perfeita, o sol adentrava em cada canto, tinha uma composição de circulações geniais, entre outros fatores. Com isso logo vi que se tratava de uma obra de Artigas.

A custa de muito esforço, eu e meu marido conseguimos restaurar a casa que a partir de então virou nosso lar, e também passou a receber pesquisadores e arquitetos do mundo inteiro para visitações. Além de atender às nossas necessidades, a ocupação e restauração da casa foi uma maneira de manter viva, em Curitiba, uma parte do grande legado do mestre Vilanova Artigas.


Para ir além

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