Quando funcionários rasgam cartazes, a ordem muda pode ter vindo de cima

O clima implantado no país pela extrema direita e mantido pelo presidente é esse

Nesta semana um funcionário de posto de saúde se atribuiu o papel de censor em Curitiba. Vendo uma pessoa na fila da vacina com um cartaz que pedia a saída do presidente, decidiu que era o caso de enquadrar a moça. Primeiro, chocada, a professora Eliane Basilio de Oliveira, abriu mão de seu direito de manifestação dobrou o cartaz. Não satisfeito, o funcionário acuou a professora e rasgou o cartaz. O caso foi relatado pela intrépida Jully Ana Mendes aqui.

Não há lei no país que proíba manifestações políticas – isso só acontece em ditaduras como a Coreia do Norte e governos absolutistas como a Arábia Saudita. Sendo uma democracia, nada justifica o fervor com que o funcionário municipal defendeu o presidente. O que ele praticou, sim, é uma violência proibida pela lei brasileira, enquanto ainda formos uma democracia.

A prefeitura já disse que não teve nada com isso, que não deu ordem para reprimir a liberdade de expressão. E é de crer que seja assim mesmo. Rafael Greca não teria nada a ganhar com isso. Mas se não foram nem a lei nem a autoridade, quem obrigou o funcionário a fazer essa barbárie. A resposta tem nome, sobrenome e CPF. E atualmente mora em um Palácio de Vidro em Brasília.

O atual presidente da República não dá ordens explícitas para que seus seguidores ajam com truculência. Mas a violência de seus discursos e de seus atos contra a imprensa, contra a democracia, contra tudo o que se opõe a ele deixa a mensagem clara para quem quiser ouvir. A ordem é impedir que a oposição floresça, é pisotear quem se manifeste contra o governo, é esfacelar a democracia.

Jair Bolsonaro é a quintessência do ditador latino-americano, que nega ser violento mas insufla a violência. Sem precisar levantar um dedo, sabe que sua voz será seguida por rufiões e vândalos nos quatro cantos do país – ainda mais em uma cidade que lhe deu 75% dos votos no segundo turno.

O clima implantado no país pela extrema direita e mantido pelo presidente é esse. De retrocesso, de criminalização da democracia, de fim de liberdades. O funcionário que vai lá e coíbe as pessoas de exprimirem seu pensamento é um mero instrumento a favor do caos buscado por essa gente. E ao mesmo tempo é o seguidor ideal de um ditador em construção.

Pedro Aleixo, na sessão que implantou o AI-5, disse que o problema não era o que o presidente faria com aquilo. O problema era o que o guardinha da esquina faria com aquele poder absurdo. Ele estava certo. E 50 anos depois, temos aí guardinhas e funcionários de baixo escalão mostrando o que acontece quando o presidente estimula sua acidez antidemocrática.

Resta saber se ele será punido pelo que fez, ou se a prefeitura de Curitiba acha que está tudo bem acabar assim com a liberdade de expressão no país.

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