Quando Bolsonaro assumiu o compromisso de pôr Moro no STF?

Jair Bolsonaro era candidato no mínimo desde 2017. Em que momento os dois conversaram?

Há falas que parecem inocentes, mas que podem conter um mundo por trás delas. A declaração de Bolsonaro sobre a vaga de Sergio Moro no Supremo é uma delas. Pode parecer a coisa mais simples do mundo. E pode ser outra coisa completamente diferente.

Primeiro, a frase. “Eu fiz um compromisso com ele porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura. Eu falei: a primeira vaga que tiver lá, vai estar a sua disposição”, disse Bolsonaro, em entrevista a Milton Neves, um jornalista esportivo que em termos políticos já se declarou “um Garrincha” (tem preferência pela direita).

Basicamente, o presidente da República tem de fato o direito de indicar ministros do Supremo. Desde que passem pela sabatina do Senado (até hoje ninguém conseguiu reprovar), beleza. Moro é ministro de Bolsonaro, deve ter sua confiança. É da área de direito, foi juiz. Portanto, nada demais, certo?

Mais ou menos. O problema não é Bolsonaro dizer que vai indicar Moro. E, sim, dizer que esse foi um “compromisso” assumido com o juiz. Mas esse compromisso veio como e quando? Essas duas perguntas definem se isso é ou não um problema.

O “compromisso” foi pedido por Sergio Moro? “Só vou para o governo se em seguida vier o STF?” Bolsonaro dá a entender que sim. Moro sabia que estava abrindo mão da carreira na Justiça, queria algo em troca: o governo dura só quatro anos (se tanto). Mas pode não ter sido.

Pode ter sido só um jeito de Bolsonaro atrair o juiz e conseguir um ministro que lhe deu popularidade e marketing. Emprestou um verniz de Lavajatismo a um governo que, convenhamos, precisa de qualquer verniz possível para parecer menos perdido.

Moro pode não ter pedido. Mas pelo jeito também não disse: “Que é isso, presidente, não exijo compromisso nenhum… Meu objetivo é ajudar no ministério”. Afinal, o presidente diz que o compromisso está de pé.

Mas pode ser bem mais complicado. Porque Bolsonaro não disse quando o tal compromisso foi assumido. E se foi antes da eleição terminar? E se foi quando Moro revelou dados da delação de Palocci faltando dias para a votação? E se foi antes ainda, no primeiro turno?

Jair Bolsonaro era candidato no mínimo desde 2017. Em que momento os dois conversaram? Em que momento Moro soube que, se Bolsonaro assumisse, ele tinha direito a uma vaga de ministro do STF?

Se a imprensa fizer seu papel, pode ser que tenhamos alguma resposta. Mas Moro não fala com a imprensa. E Bolsonaro ainda goza da complacência dos grandes veículos. E pode ser que ninguém descubra, afinal, quando foi feito o tal compromisso.

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