O jornalismo bolsonarista goza do excludente de ilicitude

Passando pano para criminosos descobertos na CPI, colunistas sabem que não pagarão por isso

Se Alberto Dines nos deixou um legado foi a noção de que a imprensa também deve ser notícia. Existe uma autocensura besta no mundinho do jornalismo brasileiro que manda não falar do coleguinha. Corporativismo, chama. E assim fomos deixando o pessoal conduzir a ignomínia ao poder em 2018.

Jornalista é igual todo mundo, tem os bons e tem os ruins. Os bons erram de vez em quando – e sem querer. Os piores erram todo dia – e de propósito. É o que vem acontecendo no caso da CPI da Covid: meio milhão de mortos não foram suficientes para que os aduladores percebessem o buraco em que estamos metidos.

Cegos a tudo, menos aos cliques dos ainda muitos bolsonaristas, decidiram tapar o sol com a cloroquina. Nos veículos sérios, claro, são minoria, embora existam. Mas na Internet, esse terreno fértil para pregadores da ignorância, pululam colunistas defendendo o horror. É a Constantinópolis, esse mundo sem regras e sem freio para voos da mente mal informada.

Por mais que se mostrem áudios, por mais que se apresentem e-mails, por mais que se prove que houve reuniões, eles insistem que nada disso é sério. A reunião? Se encontraram por acaso tomando um choppinho no shopping. O dólar extra por dose? Ora, ainda nem houve o pagamento da propina. O próprio presidente acredita no esquema? Ah, mas esse deputado bolsonarista que tem acesso ao presidente agora virou picareta.

Eu não faria aos colegas o favor de considerar que são burros. A essa altura, seria o melhor que lhes aconteceria: estarem agindo por burrice. Mas não é isso. É má fé mesmo o que move essa gente. Até porque quando a coisa era do outro lado, voavam como abutres sobre os denunciados, com ou sem indícios.

Eles sabem que Bolsonaro está naufragando – 48% dizem que o governo dele é péssimo, e isso impede qualquer plano sensato de reeleição. Mas acham que ainda dá pra faturar um troco nesse fim de mandato – e mais, apostam que os patrões estão a seu lado, e portanto gozam do excludente de ilicitude.

Terminada a Presidência, restará o residual bolsonarista na sociedade, que ainda há de render bons cliques saudosistas. E aí será agarrar-se a outro pilantra que renda bem, com o beneplácito dos colegas que não ousam criticá-los.

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