No Senado, Moro age como se ele e a Lava Jato fossem sagrados

Sergio Moro usou o tempo todo na sua sabatina no Senado o mesmo esquema. Se pôs como encarnação da Lava Jato, numa tentativa de estabelecer que qualquer um que o critique critica a Lava Jato inteira. E como a Lava Jato (para ele e muita gente) merece a glória dos altares, qualquer crítica a Moro alcança o status de heresia. De sacrilégio.

É uma manobra clássica. Você não pode criticar o padre pedófilo, ou está criticando a sacralidade da Igreja. Não pode criticar o jogador, se não está criticando o time. Aécio Neves usou isso nos debates contra Dilma: a cada vez que ela atacava, ele dizia: você não pode falar isso de Minas Gerais!

Há um personagem de Nelson Rodrigues, um juiz, que se queixa de tudo que fazem com ele como se fosse um ataque ao Judiciário. “Veja só o que fizeram com o Judiciário!”, diz ele, chateado por uma mágoa pessoal.

Moro usou e abusou do expediente. O que será que estão tentando com todas essas revelações sobre ele? Só pode ser algo orquestrado para derrubar a Lava Jato como um todo! E, portanto, é para beneficiar os corruptos. Como se ao liderar a Lava Jato (algo que, justamente, não poderia ter feito) tivesse alcançado uma imunidade permanente e total.

Curioso: os defensores de Lula costumavam usar argumento parecido. Por tudo o que fez pelo país (e ninguém há de negar os benefícios dos seus dois governos), o presidente deveria estar acima da lei. E o próprio Lula falou isso de Sarney. É um vício comum em quem chega a certa altura da escala de poder.

No caso de Moro, o escudo defletor não funcionará por ser óbvia demais a fraude jurídica que as mensagens, desvendadas pelo Intercept, revelam. Não é a Lava Jato como um todo que está sendo contestada. Certamente houve crimes que foram devidamente punidos. O ponto é outro: o processo foi justo? E Moro atuou dentro da lei?

O fato de o ministro insistir que não há nada demais no que fez é impressionante. As mensagens mostram que ele:

  • Indicou testemunhas
  • Pediu para o Ministério Público afastar uma procuradora das audiências
  • Sugeriu ao coordenador da Força-Tarefa que deixasse fora da Lava Jato 70% do que havia nas delações
  • Antecipou decisões
  • Pediu para que o Ministério Público rebatesse o “showzinho” da defesa
  • Disse que colocar um ex-presidente tucano na Lava Jato melindrava um apoiador desnecessariamente.

Se isso é normal? No sentido de acontecer o tempo todo, pode ser. Se é aceitável? De modo algum. Se será punido? É disso que se trata agora.

A Lava Jato se tornou uma instituição e como tal deve ser tratada. Desvios dentro de uma instituição devem ser revelados, até para que a estrutura seja preservada. Moro não pode estar acima da lei. Afinal, como diz o título de um filme sobre ele, A Lei É para Todos.

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