Não, o governo de Ratinho não fez a maior reforma do Paraná desde Ney Braga

Depois de um primeiro ano de governo sem muitas tarefas cumpridas, Ratinho decidiu abrir seu pronunciamento enaltecendo sua reforma administrativa

Ratinho Jr. (PSD) fez o que todo governante faz quando tem palanque: disse ter feito um trabalho sem falhas e acima do que fizeram todos os seus antecessores. Mais do que prestação de contas, os discursos de início de início do ano legislativo na Assembleia sempre foram peças de propaganda. E, como tais, sempre escorregaram para o exagero.

Depois de um primeiro ano de governo sem muitas tarefas cumpridas, Ratinho decidiu abrir seu pronunciamento enaltecendo sua reforma administrativa. Na falta de cão, caça-se com gato.

Como sabe quem acompanhou a reforma, não foi nada demais. Pega-se a secretaria de Esporte, transforma-se em departamento de outra secretaria e – voilá! – já se pode dizer que houve uma diminuição do Estado. Claro: economizaram-se meros tostões, para quem tem um orçamento de R$ 50 bilhões.

No entanto, no discurso de Ratinho essa meia sola ganhou ares épicos. Segundo o governador, tratou-se da maior reforma administrativa feita no Paraná desde Ney Braga.

Para se ter uma ideia, Ney Braga criou nada menos que: Sanepar, Telepar, Fundepar, Badep, Celepar, Codepar… Pelo menos Ratinho teve a modéstia de não dizer que suas mudanças foram mais importantes do que isso.

Mas não é preciso Ney Braga para ganhar do Descomplica – um dos programas vendidos pelo atual governador como portais da nova era.

Todo governador desde então se virou como pôde para mudar o estado, alguns com maior, outros com menor sucesso. Alvaro Dias (PODE) é outro que se gaba de ter feito a maior reforma administrativa do estado – faz questão de ressaltar sempre que pode a diminuição dos gastos públicos que lhe valeu um editorial de Joelmir Beting recitado até hoje.

De Ney Braga para cá, antes do, digamos, revolucionário governo de Ratinho, o Paraná também mudou ao extinguir o Badep, ao repassar a Telepar para o sistema federal, ao criar, fundir e extinguir secretarias, ao expandir o governo para o interior, ao transformar os funcionários em estatutários, ao mudar mais de uma vez o sistema de aposentadoria – todas reformas mais consequentes do que a fusão de vários órgãos ambientais, por exemplo.

Mas goste-se ou não o título de maior reformista do estado nos últimos cinquenta anos fica mesmo com Jaime Lerner. Em oito anos de gestão, Lerner vendeu o Banestado, criou a Agência de Fomento, privatizou o Anel de Integração, vendeu parte da Sanepar, criou o ParanaPrevidência e extinguiu o IPE, criou o ParanaCidades e quase, mas quase mesmo, vendeu a Copel.

A reforma de Lerner tinha pontos negativos? Sim, claro. Vender a Copel teria sido um erro imperdoável. A privatização do Banestado beirou o crime.

Houve também acertos geniais, como a criação do ParanaPrevidência, que se não fosse pela falta de visão dos sucessores (especialmente Beto Richa), hoje pagaria todos os aposentados do Paraná sem precisar usar dinheiro do caixa do estado.

Mas o que importa é que a história não pode ser desrespeitada. Um governo que mal começou, que ainda nem mostrou a que veio, não pode tentar fraudar os fatos e se passar por histórico. Não houve absolutamente nada memorável nos primeiros 12 meses de Ratinho no poder. Não quer dizer que o governo esteja fadado ao fracasso.

Mas calma lá. Vender Fanta Uva como vinho francês não vale.

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