Lava Jato ultrapassou a última fronteira ao ironizar morte de mulher de Lula

A guerra tem limites e a dor pela morte de um parente deve ser respeitada

A Ilíada é a história de uma guerra tribal, com todos os seus horrores. No final, Aquiles mata Heitor, seu inimigo, e vilipendia seu corpo brutalmente, arrastando-o sem vida pelo campo de batalha. A um pedido emocionado de seu pai, porém, entrega o corpo para os funerais.

Desde o início da civilização se sabe que a guerra tem limites, e que a dor pela morte de um parente deve ser respeitada, mesmo se for o seu pior inimigo.

A Lava Jato desprezou essa lição. Na matéria mais angustiante de toda a série sobre a operação até aqui, repórteres do Uol e do Intercept revelaram que os procuradores zombaram das mortes de parentes de Lula – que em tese era réu, nem inimigo.

Os comentários dos procuradores sobre a morte de Marisa Letícia são de uma grosseria indigna não apenas do cargo, mas de pessoas civilizadas.

A sugestão de que um ex-presidente da República tivesse mandado assassinar a esposa com quem passou a vida para “eliminar testemunhas” (de um crime para o qual eles não conseguiram provas) é o ponto baixo de uma operação que vem se revelando particularmente cheia de momentos deprimentes.

Dizer que um homem que quer enterrar o irmão é um “safado que só quer passear”; comparar o enterro de Marisa Letícia ao de alguém do PCC, e dizer ser um vexame que Janot fosse até lá; dizer que agora que a mulher morreu teriam de aguentar “vitimismo”; tudo isso mostra, além de falta de humanidade, despreparo emocional para o cargo.

Os procuradores, cada vez fica mais claro, não viam em Lula um ser humano capaz de erro. Viam nele um monstro. Jamais poderiam admitir a hipótese de ele ser inocente. Jamais poderiam ser justos. E portanto não deveriam estar onde estão.

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