Homenagem ao dono da Havan é celebração da bufonaria bolsonarista

Luciano Hang é uma figura triste, e é igualmente triste que os deputados do Paraná o celebrem

Adolescentes parecem escolher as bandas de que gostam como quem escolhe amigos que gostaria de ter. As camisetas e discos servem, para dizer: é deste lado que eu estou, é assim que eu quero ser, sou tão legal quanto esses caras. Como se as qualidades dos músicos fossem absorvidas por osmose – ainda que o fã continue sem tocar uma nota sequer.

Na política isso também funciona. O governante que cita a Carta de Puebla o tempo todo quer dar um recado. O deputado que diz amar o coronel Ustra sabe muito bem que está jogando para uma certa torcida. O dirigente sindical que anda com camiseta do Che Guevara está com isso dizendo qual é seu ideário.

Escolher homenageados, para um político, é como escolher camisetas de bandas para um adolescente. No mandato passado, uma vereadora tentou dar título de cidadão honorário de Curitiba a Silas Malafaia. Depois que Lula foi denunciado, diversos políticos em vários estados disputaram a honra de lhe retirar as homenagens.

Agora, no Paraná, chegou a vez de discutirmos a cidadania honorária de Luciano Hang. A proposta é de Cobra Repórter (PSC), um apresentador de programas populares na região de Londrina que pouco fez de relevante em seus dois mandatos até aqui – exceto, claro, se submeter a entrar no camburão e a votar a favor de Beto Richa no 29 de abril, entre outras coisas do gênero.

Mas, como dizem brincando os próprios deputados, o mais bobo da Assembleia enganou 50 mil eleitores. Cobra Repórter de bobo só tem o nome. E sabe que aparecer ao lado de um símbolo do bolsonarismo será bem visto por boa parte de seu eleitorado. O triste é pensar o que isso significa sobre os tempos e sobre os eleitores.

Luciano Hang é uma figura triste. Como empresário, foi condenado a dez anos de cadeia (só não foi preso porque, sabe como é, nesses casos a pena sempre prescreve). A condenação foi por lavagem de dinheiro.

O empresário também burlou a lei eleitoral para pedir votos Bolsonaro (nova condenação), constrangeu funcionários e há vídeos que dão a entender que ele financiou a campanha ilegalmente.

O eleitor, no entanto, gosta de Bolsonaro. E assim como Ustra servia de selo para dizer o que quer o capitão (o fim da democracia), Luciano Hang, o homem da Havan, serve de selo para os deputados que aprovarão sua cidadania, mesmo ela sendo claramente inconstitucional.

Triste que o histrionismo, a histeria, a burla da lei eleitoral, a mentira como método e a palhaçada como política sejam o símbolo que os políticos desejem abraçar. Mas é isso que estamos vendo.

Porque não há dúvida de que os deputados, sob o disfarce de que estão homenageando um empresários que criou vagas de trabalho, estarão celebrando. Poucos se darão o respeito de dizer que a lei paranaense proíbe o título nessas circunstâncias.

Ser sensato, no momento de insensatez, pega mal. Homenagear o bufão, por outro lado, é garantia de mais votos.

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