Governo Bolsonaro admite que nenhuma criança morreu por causa da vacina. E das mentiras, terá morrido alguma?

Deveria haver uma punição para quem coloca a saúde de crianças em risco em nome de um emprego e de notoriedade

Não há mais margem para invencionismos. O próprio Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro (PL), envolvido em todo tipo de trama negacionista durante os dois anos de pandemia, acaba de publicar sua conclusão: nenhuma criança ou adolescente morreu em função de problemas decorrentes da vacina contra a covid-19.

Zero. Nenhuma. Nada.

Isso significa o quê? O óbvio. Que todas aquelas histórias esdrúxulas que vinham sendo espalhadas sobre meninos e meninas enfartando por causa da vacina ou tendo as mais variadas causas de morte causadas pelo imunizante eram bobagem. E que quem espalhou essas mentiras ou estava enganado ou estava de má-fé.

Dá para acreditar que algumas pessoas sem formação ou num momento de pânico tenham se deixado confundir, até porque gente supostamente séria em situação de autoridade (políticos em Brasília, jornalistas e os malditos influenciadores) andava dizendo besteira. Pode ser difícil separar o joio do trigo, e exatamente por isso as notícias mentirosas são tão problemáticas.

Mais complicado é acreditar que médicos teriam motivos para espalhar coisas assim de boa-fé. Ou mesmo jornalistas. E aí parece estar o cerne do problema: o jornalismo deveria servir para desmentir boatos, não para criá-los. Deveria ser uma arma da cidadania contra poderosos que espalham balelas para colher votos. E nem era tão difícil.

Toda a ciência dizia uma coisa. Mas houve jornalistas que ouviram o diabinho dizer que havia boatos interessantes. E a verdade pode ser chata, tediosa. Por que não mentir se isso pode te dar seguidores, cliques, te tirar do anonimato gerado pelo fim da carreira? Vende-se a alma em troca de 100 mil seguidores.

É muito fácil. Você se coloca atrás do microfone, põe um tailleur que parece dar credibilidade, e fala tudo que o tio do zap diz, mas com impostação de repórter de tevê. E logo a turba acha que você é uma espécie de heroína do submundo lutando contra um sistema mentiroso que quer ocultar mortes de criancinhas.

Deveria haver uma punição para quem coloca a saúde de crianças em risco em nome de um emprego e de notoriedade. Na verdade, acho que essa punição existe. Não no inferno nem na cadeia, mas no desprezo que as pessoas sérias sentem por alguém assim tão vil.

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