Falsa democracia: votação decide por devastação da Mata Atlântica em Pontal

Nem toda votação é democrática. Todo mundo que acompanha política minimamente sabe disso. Stálin, por exemplo, logo depois de fazer aprovar a Constituição soviética do jeitinho que queria, foi eleito com 100% dos votos numa eleição que teve incríveis 100% de presença. Não houve sequer um velhinho doente na Sibéria que tenha deixado de comparecer.

O caso da estrada de Pontal do Paraná, evidentemente, não chega ao mesmo grau de escândalo. Ainda assim, a estratégia de Ratinho Jr. (PSD) e de seus secretários de dar ares democráticos à devastação da Mata Atlântica ficou pouco acima de uma pífia encenação.

Foi nesta segunda-feira. Depois de oito meses fazendo reuniões com um grupo de trabalho sobre o tema, o governo convocou a última conversa. De um lado, Ratinho e seu grupo querem mandar retirar tudo que for verde do caminho e criar logo a estrada que possibilita o porto de João Carlos Ribeiro em Pontal. É o progresso, dizem eles.

De outro, há quem cheire no processo o beneficiamento de um mega-empresário com mais de trezentos milhões do contribuinte. Faz-se a estrada com dinheiro público e o lucro fica para o dono do porto. Para isso, devasta-se, expulsam-se aldeias, acaba-se com uma comunidade originária e dá-se aquela escanteada nos ambientalistas.

O processo começou torto, com uma licença ambiental obtida de modo questionável. Agora, termina com uma votação feita de surpresa, sem que uma das partes (adivinhe qual?) fosse avisada.

Justamente no dia da votação, por uma dessas coincidências da vida, dezenas de membros da Aciapar, uma associação do litoral que quer a estrada e o porto, apareceram do nada na reunião do grupo de trabalho. O resultado da votação foi favorável ao governo, claro, que tinha maioria no grupo.

O Ministério Público chiou, dizendo que ilegalidade não se vota. Os ambientalistas reclamaram. Mas o governo diz que está com todo o respaldo para asfaltar a mata o quanto antes.

A grita de quem encontrou erros no processo obrigou o governo a se comprometer com ainda mais uma reunião. Mas até agora, o grupo de trabalho serviu meramente para validar o que Marcio Nunes e Sandro Alex estavam, determinados a fazer desde o começo.

Quem quiser pode aproveitar a última oportunidade e ir tirar umas fotos dos animais e das plantas que ainda estão lá. Porque, ao que tudo indica, o verde vai sumir – não só das matas como dos cofres públicos.

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