E-mail racista é enviado a Renato Freitas de conta do relator de seu processo. Toaldo nega autoria

Mensagem foi enviada menos de 24 horas antes de sessão que decidirá possível punição a petista

Menos de 24 horas antes da votação que decidirá uma possível punição a Renato Freitas (PT), um e-mail repleto de grosserias e acusações racistas foi enviado ao vereador. Seria grave de qualquer modo. No entanto, o que tornou o assunto muito mais importante foi o e-mail do remetente: o endereço que aparece na mensagem é do relator do processo contra o petista, o vereador Sidnei Toaldo (Patriota).

A mensagem foi enviada de [email protected], o que em princípio levaria a crer que o autor fosse o próprio relator do procedimento. No entanto, a mera leitura do texto leva à desconfiança. A mensagem é tão grosseira e afronta tão descaradamente as leis antirracismo que dificilmente teria sido escrita por alguém minimamente informado das consequências. Fosse ele o autor da mensagem, o próprio Sidnei Toaldo estaria exposto a perder o mandato.

“Eu não tenho medo de você ou dos esquerdistas vagabundos que te defendem, seu negro”, diz o e-mail. “Já metemos pressão na Indiara Barbosa e na Noêmia Rocha (…) A câmara de vereadores de Curitiba não é o seu lugar, Renato. Volta para a senzala. E depois de você vamos dar um jeito de cassar a Carol Dartora e o Herivelto. Vamos branquear Curitiba e a região Sul queira você ou não. Seu negrinho”, continua a mensagem.

Indiara e Noêmia são vistas como as duas vereadoras que podem decidir o futuro de Renato, por ainda não terem deixado claro seu voto. Noêmia diz que de fato tem sido muito pressionada. Para escapar da cassação, sugerida no relatório de Toaldo, Renato precisa do apoio de pelo menos uma delas. Já Dartora e Herivelto são os dois outros negros na Câmara atualmente.

Em entrevista ao Plural, Toaldo negou a autoria do e-mail. “Inclusive eu estou em casa, afastado, positivei para Covid. Tem mais gente no gabinete com Covid, só tem uma funcionária minha trabalhando na Câmara”, disse ele. “E eu nunca escreveria aquilo. Tenho amigos negros que eu respeito mais que os brancos”, afirmou.

Toaldo disse ser uma pena que o e-mail tenha surgido tão próximo da votação. “Eu não sugeri a pena para o Renato por causa de cor da pele. Foi o meu entendimento da questão”, disse ele. O vereador do Patriota disse que vai “tomar providências” para apurar a origem do e-mail ainda nesta terça-feira, após a sessão do Conselho de Ética.

Hacker?

No fim da tarde desta segunda (9), a Câmara de Curitiba emitiu uma nota sobre o assunto. O texto diz que não houve denúncias formais sobre o e-mail nem sobre possíveis hackeamentos de contas da Câmara.

“Sobre o suposto print de um e-mail entre vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), que circulou em redes sociais nesta segunda-feira (9), a CMC informa que, até as 18h de hoje, não recebeu denúncia formal contra o suposto autor, nem de invasão das contas de e-mail, tampouco de ataque hacker ao provedor de e-mails do Legislativo”, diz o texto.

“Desta forma, respeitada a inviolabilidade da comunicação pessoal dos parlamentares, a CMC não tem como determinar a autenticidade da mensagem no presente momento. Isto só poderá ser feito ou por investigação interna devidamente motivada, ou por ordem judicial, cabendo aos envolvidos a iniciativa neste caso.”

Processo

Renato Freitas é alvo de uma representação no Conselho de Ética por ter protestado no dia 5 de fevereiro dentro da Igreja do Rosário, no Largo da Ordem, em Curitiba, contra o assassinato de dois homens negros. A própria Igreja Católica, por meio da Arquidiocese, afirmou ser contra a cassação do vereador, e sugeriu uma pena mais branda.

A principal força contra Renato Freitas na Câmara hoje é a bancada evangélica, que tem uma briga com ele desde que o petista afirmou haver pastores “trambiqueiros” em algumas igrejas.

Na sessão do Conselho de Ética desta terça, os vereadores poderão escolher apoiar o voto de Sidnei Toaldo, que pede a cassação do petista, ou optar por uma punição mais leve. Existe ainda a possibilidade de arquivamento do caso. A punição sugerida pelo Conselho será levada a votação no plenário.

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