A grita contra Bolsonaro é justa. Injusto foi o silêncio de 2018

Fruet
Bolsonaro já era um perigo evidente demais para ser negligenciado. Preferiram nos atirar à cova dos leões. Agora, gritam como se nada tivessem a ver com isso. Não é bem assim

É evidente que choca qualquer democrata o fato de o presidente da República estar ajudando a divulgar um ato contra o Congresso. A atitude é típica de ditadores, que querem se ver livres do poder que limita sua atuação.

Portanto, não deixa de ser positivo ver o Congresso reagir. Nos últimos dias, vários deputados e senadores foram às redes sociais e à imprensa para se dizerem indignados com a atitude de Jair Bolsonaro. Ganham uma estrelinha pela defesa da democracia. Mas a pergunta é: onde estavam esses políticos em outubro de 2018?

Gustavo Fruet (PDT) foi ao Facebook demonstrar sua indignação. Ninguém jamais desconfiará de seu apreço pela democracia. E ele acertou o tom da crítica:

“Se confirmado, inédito da parte de um presidente e um caminho de confronto sem precedentes. Muito além de qualquer crítica por mais firme que pudesse ser contra o Congresso e STF. O silêncio e a omissão serão os piores caminhos.”

O ponto é: em outubro de 2018, todo mundo já sabia quem era Jair Bolsonaro. Ele já tinha sete mandatos de atitudes absurdas no Congresso. Já elogiava a ditadura. Já era acusado de planejar botar bombas em quartéis. Já tinha elogiado grupos de extermínio. Já havia feito homenagens a Ustra na sessão do impeachment de Dilma.

E no entanto, no segundo turno, Fruet optou justamente pelo silêncio e pela omissão que, segundo ele mesmo diz hoje, são os piores caminhos.

O mesmo vale para outro prefeito de Curitiba, Luciano Ducci. Agora, depois de o horror da eleição de Bolsonaro ter se consumado, quando estamos à beira do abismo, Luciano Ducci (PDT) vem a público. “É algo gravíssimo e com precedentes apenas no período sombrio da ditadura.” Onde estava Ducci em outubro de 2018?

Alvaro Dias (Pode) fez também belo discurso nas redes sociais. “Critiquem aqueles que merecem a crítica. A instituição não merece. Não cabe a ninguém, muito menos a um presidente da República estimular manifestações contra o Congresso. Porque trata-se de estimular manifestações contra a democracia. Nós não podemos concordar com isso.” Onde estava Alvaro depois de sua derrota em 2018?

Não se pode esperar defesa da democracia de quem votou em Bolsonaro. Não se pode esperar que os deputados do PSL e da futura Aliança pelo Brasil tenham postura diferente da que estão tendo.

O que se poderia esperar é que os deputados e senadores, que os líderes políticos e partidários que hoje veem o país à beira do caos, tivessem deixado de lado as pretensões políticas da província, que tivessem pensado no bem do país e denunciado Bolsonaro quando era o melhor momento para fazer isso.

Evidente que é bom que a defesa da democracia ocorra. Que com dois anos de atraso os nossos representantes percebam o tamanho do buraco em que estamos.

Mas não se pode deixar de notar o óbvio: estamos onde estamos porque muita gente que deveria ter tido esse mesmo papel de confronto, de denúncia e de defesa dos valores democráticos preferiu se esconder do jogo em outubro de 2018.

Bolsonaro já era um perigo evidente demais para ser negligenciado. Preferiram nos atirar à cova dos leões. Agora, gritam como se nada tivessem a ver com isso. Não é bem assim.

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