O Piano, uma história de mulheres

É um filme delicado, sutil, assim como a descoberta de Ada, que vai aos poucos se revelando

Muda, ela gesticula como uma bailarina. O piano é tudo que ela tem, e tudo que ela mais quer. Amor, só pela filha, que traduz o que ela quer falar. Ada, muda, é Holly Hunter, e a filha, Flora, é Anna Paquin.

A chuva e o calor sufocam. A luz é vermelha nos interiores; e fria, azulada, nas cenas externas. O som do piano se funde ao som dos pássaros.
O Piano, escrito e dirigido em 1993 por Jane Campion, é um filme delicado.

Britânica, em meio à selva da Nova Zelandia e aos maoris, Ada descobre o sexo quando George Baines (Harvey Keitel) toca num furo da meia dela. É o único que a entende. Sabe que o piano é a vida dela.

É um filme delicado, sutil, assim como a descoberta dela, que vai aos poucos se revelando – no filme, e nela mesma, cada vez mostrando uma parte do corpo, numa troca pelo piano, que acaba em sexo.

Quando o marido Stewart (Sam Neill) descobre a traição, decepa um dedo de Ada. Ela perde tudo. O sexo, o piano, a própria vida.

Os vestidos e as botas, sempre molhados pela chuva e manchados pela lama, são um retrato da vida de Ada. Casta e devassa. Limpa e suja.

No final, Stewart expulsa Ada. Junto com a filha e o amante, ela manda os maoris embarcarem todas as coisas, inclusive o piano. Os maoris, que também conduzem o barco, falam que o piano vai fazer o barco afundar, mas Ada insiste. Em meio às ondas, ela pede que joguem o piano no mar, e de repente embrulha o pé na corda do piano.

Ada afunda junto com o piano.

Afunda de olhos abertos. Ela queria se suicidar?

Mas Ada é salva, e na cena final, ela está numa casa, com um piano novo, um dedo de metal e George ao seu lado. Ela pratica a fala com um pano sobre a cabeça, porque tem vergonha, e dá aulas de piano. Final feliz.

Eu preferiria que Ada morresse. E você?

Jane Campion recebeu um Oscar pelo roteiro, Holly e Ana também por melhor atriz e coadjuvante. Eu assisti em DVD.

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