Os segmentos de couraça segundo Reich

Descubra como as nossas “travas” corporais podem influenciar o nosso comportamento e a nossa saúde

No artigo anterior, apresentei brevemente a terapia corporal reichiana e como ela atua sobre os segmentos de couraça com a finalidade de flexibilizá-los para amadurecer o indivíduo. Hoje, quero falar sobre cada um dos segmentos de couraça, individualmente, também de modo breve, e como seus bloqueios se manifestam em nosso comportamento.

Todo este texto se baseia nos trabalhos de Wilhelm Reich, Federico Navarro e de José Henrique Volpi e Sandra Volpi.

Os segmentos detectados por Reich, que, quando encouraçados, impedem o fluxo natural vida em sentido céfalo-caudal (da cabeça aos genitais), são os seguintes:

  1. Ocular
  2. Oral
  3. Cervical
  4. Torácico
  5. Diafragmático
  6. Abdominal
  7. Pélvico

São nesses segmentos de couraça que nossas neuroses se manifestam fisicamente em nossos corpos de forma física, biológica por assim dizer.

Segundo o médico neuropsiquiatra italiano Federico Navarro, de acordo com sua experiência clínica, 99% da população tem algum tipo de comprometimento em um ou mais segmento, se não todos.

Segmento ocular

O segmento ocular abrange também, além dos olhos, os outros telerreceptores (nariz, ouvido, pele). O bloqueio deste segmento se dá a partir de estresses durante a gestação até os 10 primeiros dias de vida, a chamada fase de sustentação (Volpi e Volpi, 2006). Tal bloqueio se caracteriza pelo medo, prejudica a interpretação da realidade e é, segundo Navarro, formador da caracterialidade núcleo psicótica, marcada por baixa energia (indivíduo hipoorgonótico) e pela dificuldade de contato tanto físico como social. Pode-se observar, eventualmente, nos indivíduos com bloqueio nesse segmento, problemas de pele, deficiências de refração da visão (miopia, astigmatismo, hipermetropia e, com a idade, presbiopia). Dizer que um sujeito é núcleo psicótico não é o mesmo que dizer que ele é psicótico ou esquizofrênico, mas esse “núcleo” pode “explodir” se houver um estímulo negativo.

Crédito da foto: Luriko Yamaguchi/Pexels.

Segmento oral

O segmento oral envolve a boca e suas estruturas e a região occipital. Por isso, também influencia a fala (naturalmente, outros segmentos também o fazem, por exemplo, o diafragmático). Seu bloqueio se dá pela ausência de amamentação ou pelo desmame inadequado. Por inadequado, entendemos como precoce, tardio ou abrupto, considerando-se o surgimento dos dentes como um marco para esse prazo; cronologicamente, a fase de incorporação, segundo Volpi e Volpi. Naturalmente, o tipo de afeto envolvido na amamentação também tem grande influência sobre esse bloqueio. O indivíduo com bloqueio nesse segmento possui a caracterialidade oral ou borderline (por estar entre o núcleo psicótico e o neurótico). No segmento oral, deposita-se a raiva, que é uma defesa contra a depressão. Os indivíduos têm um sentimento de vazio (melancolia) se não mamaram no peito, caracterizando o oral reprimido, e de perda (depressão) se foram desmamados inadequadamente, caracterizando o oral insatisfeito. O resultado é de falta de afeto e de limites na busca por esse afeto, procurando alianças constantemente e, muitas vezes, sendo incapaz de “andar com as próprias pernas”, sem alguém ou algo que o carregue ou o empurre. Observa-se possivelmente doenças como alcoolismo, bruxismo, dentes tortos ou danificados, anorexia (oral reprimido) e bulimia (oral insatisfeito).

Segmento cervical

Circunda o pescoço e inclui a língua. Está ligado ao narcisismo: quando caímos na água – como aconteceu com Narciso -, tentamos elevar o queixo para permanecer respirando e vivos. Esse movimento tensiona o pescoço. Para Navarro, o bloqueio nessa região é uma característica do psiconeurótico (como estrutura ou como cobertura de outra estrutura mais primitiva) e ele se instaura entre os nove meses de idade e o início da puberdade. Diferentes caracterialidades manifestarão o bloqueio nesse segmento de diferentes formas. Como marcas, podemos observar dificuldade de fala (a voz pode ficar presa no pescoço), artrose cervical, problemas na tireoide, torcicolos, entre outros.

Crédito da foto: Karolina Grabowska/Pexels.

Segmento torácico

Traz o tórax e tudo o que ele envolve (coração, pulmões, timo), além de ombros, braços e mãos. O segmento torácico é intimamente interligado com o segmento cervical. Segundo Volpi, é a sede da identidade biológica, do eu, e também da ambivalência (atitude de indecisão, de incerteza), se bloqueado. Por incluir o timo, está ligado também à situação imunitária do indivíduo e, por óbvio, às condições de saúde dos pulmões e do coração.

Segmento diafragmático

O músculo diafragmático está ligado à ansiedade, ao masoquismo e à espera por um “castigo”, que deriva de uma educação excessivamente moralista (outra característica da caracterialidade masoquista são as nádegas frequentemente contraídas, como se “não tivesse” bunda). A culpa atrelada a esse segmento quase sempre tem uma conotação sexual. A masturbação, por exemplo, que seria uma saudável descarga de energia para evitar a agitação provocada por seu acúmulo, é considerada nociva, suja, pecaminosa ou com outros atributos negativos. O bloqueio diafragmático pode ser visualizado no corpo através da lordose diafragmática.

Segmento abdominal

O bloqueio abdominal está ligado ao controle dos esfíncteres e se encontra bloqueado se a criança sofreu estresse durante a etapa de produção ou fase anal – do desmame até o terceiro ano de vida ou um pouco antes. Este segmento está ligado à compulsividade: o bloqueio nessa fase e nesse segmento pode trazer uma tendência à constipação, avareza, organização, meticulosidade e limpeza, em diferentes níveis, podendo chegar aos patológicos. Obviamente, o bloqueio abdominal, pode trazer problemas intestinais (constipação, síndrome do intestino irritável, intestino solto e outros).

Segmento pélvico

Anatomicamente é onde se encontram os genitais. As questões edipianas, da fase de identificação (a partir dos quatro anos de idade) até a fase de estruturação e formação do caráter, se mal resolvidas, trarão o seu bloqueio. Está associada à caracterialidade histérica, sobretudo: “O histérico sente-se culpado pela atividade sexual genital. Sente-se culpado porque inconscientemente o parceiro sexual representa o pai do sexo oposto ou porque sente que fazer amor significa trair o pai do mesmo sexo.” (Volpi e Volpi, 2003). Esse bloqueio pode ser observado de várias maneiras, como, por exemplo, pela imobilidade dos quadris ou pela tensão dos músculos adutores (interior das coxas). Esses músculos são responsáveis por “fechar as pernas” como metáfora física do medo da castração e da punição. O bloqueio neste segmento traz a ejaculação precoce, o vaginismo, impotência, frigidez e outras biopatias.


Para ir além

NAVARRO, F. Somatopsicologia. São Paulo: Summus, 1996.

REICH, W. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

VOLPI, J.H.; VOLPI, S.M. Etapas do Desenvolvimento Emocional. Curitiba: Centro Reichiano, 2006. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.htm. Acesso em: 07/08/2020.

VOLPI, J.H.; VOLPI, S.M. Reich: Da Vegetorerapia à Descoberta do Orgone. Curitiba: Centro Reichiano, 2003.

O que é Terapia Corporal

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