Como voltar a abraçar em tempos de Covid-19

A psicóloga Virginia Satir dizia que precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver, 8 para viver e 12 para crescer

Uma querida amiga, recentemente, revelou que, depois de 90 dias em isolamento social, decidiu, no que, para ela, era uma ato de transgressão, abraçar a mãe.

Detalhe: ela vive com a mãe. Por ser uma pessoa muito afetiva, o fato de não estar tendo contato físico com a mãe, para essa amiga, era uma tortura.

Ela, portadora de comorbidades e a mãe idosa, desde que a pandemia foi declarada no Brasil e o isolamento colocado como necessário, evitaram ver novas notícias para preservar os seus já combalidos estados emocionais.

Não tinha ideia de que, uma vez morando junto com a mãe e ambas tomando suas precauções, podiam ter contato sem maiores riscos.

No post do Facebook em que ela contou essa história, quase todos ficaram tocados com a ideia de que ela tinha passado por três meses de sofrimento, sem abraçar uma pessoa querida que estava a um só tempo tão perto e tão longe.

A psicóloga sistêmica Virginia Satir (1916-1988) dizia que precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver, 8 para viver e 12 para crescer.

Pelo menos dois terapeutas (um comportamental e outro reichiano), com quem tenho tido contato, têm observado que em algum momento precisaremos selecionar as pessoas e os métodos seguros para voltar a encontrar aqueles por quem temos apreço e afetividade.

Não haverá um “sinal oficial” do tipo “Aí, galera, podem encontrar seus amigos”. O provável é que os cuidados comunitários de um modo geral permaneçam como estão durante meses, muitos meses.

Mas uma coisa é o conjunto.

A outra é o indivíduo.

A questão é COMO – individualmente – fazer isso, com quem, com quantos e em que momento e – também – como evitar julgamentos morais a terceiros e a suas escolhas relativas a isso (isso é um grande mal emocional também).

Pensar sobre isso, fazer “ideações” afetivas é sim, muito saudável, pois em algum momento essas ideações precisarão ser realizadas. E só o que plasmamos antes no emocional e mental conseguimos gerar no plano físico de forma adequada.

Só dessa forma, isso acontece de forma inteligente, na hora de as pessoas encontrarem estratégias seguras e afetivas de rever as pessoas mais queridas, as velhas e as novas.

Tudo considerando o quando, a quantidade, a frequência e o como.

Não haverá um sinal institucional para a retomada das afetividades físicas individuais.

Os meios oficiais mal conseguem dar conta da saúde sanitária. Imagine se eles estão se preocupando com a saúde mental e emocional.

Isso é uma iniciativa individual e deve ser empreendida com responsabilidade e com ciência dos riscos.

O isolamento é ainda necessário. Sem dúvida. Não estou dizendo para você sair de casa com uma placa de “Abraços Grátis” pendurada no pescoço.

Mas, se puder abraçar alguém que está perto de você, não o deixe de fazer.

Claro, não estou considerando aqui as pessoas exploradas por seus patrões e patrões escravizados por um esquema de lucro que depende do consumo para continuar existindo.

Esses acabam compelidos a colocar sua vida em risco por motivos que, no seu entendimento, são mais fortes que eles e que, talvez, ultrapassem sua compreensão. A compreensão de como as coisas poderiam ser diferentes.

Só uma falta de balanceamento de valores explica: um direcionamento da energia tão errado que coloca a vida em segundo plano e até mesmo os empurraria ao abismo – e eles pulariam com gosto – se fosse preciso para manter o esquema das coisas “como elas são”. Um esquema que divide o mundo entre aqueles que estão #emcasa e aqueles que estão se acotovelando no transporte coletivo.

Não menciono tampouco os que simplesmente colocam a sua vida e a dos seus por futilidades ainda piores.

Mas e você? Você que está tomando todos os cuidados, já parou para pensar em como retomar os contatos físico-afetivos quando isso for um pouco mais possível?

Já está estudando como fazer isso de maneira a preservar sua saúde sanitária e também a mental?

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