Uma das coisas de que me lembro de minha infância é um quadro de um desses programas matutinos de variedade que havia na tevê daquele tempo, voltados para o público feminino, tipo o TV Mulher, da Globo. Mas era uma outra emissora, acho que a, então, Bandeirantes.
Nele, um sujeito grisalho de boné falava sobre diversas coisas. Às vezes divertido, às vezes sério, às vezes severo. E até mal-humorado, de vez em quando.
Mas ele falava das coisas de um jeito tão interessante que, mesmo sem eu entender nada, ficava entretido ouvindo.
Hoje, eu fico pensando: se eu não entendia nada ou quase nada, por que aquilo me seduzia?
E a resposta acaba vindo de uma coisa que ele mesmo ensinava: não é o que se fala, mas a CARA com que se fala.
A cara diz mais sobre nós do que as próprias palavras.
Não que a comunicação não verbal substitua a comunicação verbal. Isso é besteira.
Se substituísse ou se ela fosse 80% da comunicação, como gostam de dizer alguns ensinantes de araque, não precisaríamos de sons nos filmes e, mesmo sem as falas, entenderíamos toda a história.
Mas a verdade é que a comunicação não verbal nos dá o real significado do que se diz e, sobretudo, do que não se diz, do que fica oculto nas palavras proposital ou não propositalmente.
O nome desse sujeito a que eu assistia com gosto era José Ângelo Gaiarsa, um dos introdutores de Reich no Brasil.
Muito mais tarde fui conhecer os livros dele. E ainda mais tarde encontrei diversos vídeos em que ele fala a respeito de muitos temas, sobretudo do que diz respeito à sexualidade.
E, destes vídeos saiu o título e a gravata desse texto: todos nós gostamos de imaginar que somos o ápice da liberalidade, que encaramos o sexo e o erotismo com a “maior naturalidade”.
Quando a criança pergunta sobre sexo? Oh, meu filho, é só responder com a “maior naturalidade”.
O próprio Gaiarsa diz em um de seus vídeos: eu quero ver a CARA dos pais falando para os filhos com a “maior naturalidade” sobre sexo.
Não se engane: a CARA vai ser lida pela criança, cujos sensores são ainda mais sensíveis que os nossos, de adultos.
E, na cara, a criança pode entender que sim, o sexo é uma coisa bonita e gostosa, presente em cada momento em que sentimos o simples prazer de estarmos vivos, até num cotidiano pão com manteiga (em última instância todo prazer é erotismo em algum nível).
Ou, pela cara, essa criança curiosa pode entender que sexo é uma coisa suja e causadora de problemas e sofrimento.
Bem como os demais matizes entre esses dois extremos.
Por isso, gostaria de compartilhar aqui estes 13 vídeos em que o Gaiarsa fala sobre sexo.
Eles são muito divertidos e instrutivos e me fazem pensar em outros profissionais que ficaram famosos na tevê falando sobre o tema, mas que tratavam do assunto de um modo tão chato que parecia que estavam dando uma aula de anatomia.
As falas do Gaiarsa são como o sexo deveria ser: gostosinhas e divertidas! E a cara é ótima.