O que é Terapia Corporal

Como nossas emoções mais antigas e permanentes se manifestam em nosso corpo

Quando você está prestes a fazer uma apresentação em público ou prestes a encontrar aquela pessoa de que gosta ou terá que passar por qualquer situação que lhe causa apreensão, sente um frio no estômago?

Quando o dia é difícil, com várias situações estressantes, sente tensão no pescoço e perto da região dos ombros ou até mesmo dor nessas áreas?

No primeiro dia de férias, ao acordar, sente uma leveza no corpo que leva você a um gostoso e espontâneo espreguiçamento?

As emoções se manifestam no corpo. Eu iria mais longe, dizendo que, sem corpo, sequer sentiríamos emoções. Sem corpo, elas seriam uma expressão ainda mais abstrata do que já são.

Olhando por esse ângulo, bem didático, fica fácil entender a teoria de Wilhelm Reich na prática.

Claro que ele vai ainda mais longe.

Wilhelm Reich é considerado o pai da Psicologia Corporal. Crédito da foto: reprodução.

Ele diz que nossos bloqueios mais marcantes se formam desde a infância. Desde o útero, na verdade. E se congelam no corpo de tal forma que nem mesmo os percebemos: simplesmente achamos que isso é o normal, que somos assim e pronto.

Eu poderia escrever um artigo inteiro sobre Reich, mas para não me estender e complicar muito, vou dizer que ele foi seguidor de Freud e, na época, fôra encarregado de alguns dos pacientes mais resistentes à Psicanálise pelo criador desse método de terapia.

A terapia não está andando? Manda pro piá.

Acontece que, a certo momento, Reich entendeu que aquelas resistências à terapia eram sim um ponto a ser abordado pela própria terapia. O modo como o paciente resiste à terapia diz mais sobre ele do que as próprias palavras que ele diz durante tal encontro.

E, nesse processo, Reich passou a OLHAR para o paciente.

Efetivamente olhar: na psicanálise, em sua origem, nem paciente nem psicanalista se olhavam durante a encontro terapêutico.

E Reich foi além. Passou a TOCAR as pessoas em tratamento.

Não foi só nisso que Reich começou a divergir da Psicanálise.

Por exemplo, ao contrário do que pregava Freud, o masoquismo e a pulsão de morte, para ele, não seriam parte integrante do ser humano – engrenagens que já vêm conosco para possibilitar a vida em sociedade -, mas resultado justamente da sociedade neurótica em que o ser humano vive.

O ser humano saudável se volta para o prazer, o prazer de viver. Sem comportamentos sistematicamente neuróticos.

E, no seu processo clínico e de pesquisa, Reich detectou e estudou os segmentos de couraça, presentes no corpo de todas as pessoas: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico.

Nossas neuroses, assim, se manifestam no corpo. O corpo concretiza e traz, de forma evidente – visível aos olhos e sensíveis ao toque -, as marcas emocionais da história de um indivíduo.

É, de fato, como se, mesmo calada, a pessoa expressasse toda a sua experiência humana até aquele momento através de sua postura, tensões, semblante, gestos e outras manifestações físicas.

Segundo os psicólogos José Henrique Volpi e Sandra Mara Volpi – referências em psicologia reichiana e neorreichiana no Brasil, do Centro Reichiano, em Curitiba -, o comportamento é sempre uma manifestação muscular.

Sigmund Freud, psiquiatra criador da psicanálise. Crédito da foto: reprodução.

E fica fácil concluir que o comportamento assim manifestado é, portanto, influenciado direta e sensivelmente pelas emoções reprimidas nos músculos e nos demais tecidos humanos (pele, vísceras e demais órgãos). Desde o modo como respiramos ou movemos nossos membros, como falamos, como interagimos com os outros, até nossas doenças, crônicas ou episódicas.

Tais couraças, por um lado, como o nome sugere, protegem o indivíduo de sensações indesejadas, de que ele se resguarda por razões que não aprofundaremos neste momento.

Uma pessoa saudável usaria essas couraças a seu favor e, tão logo o estímulo desagradável cessasse, elas seriam desengajadas.

No entanto, para 99,9% de nós, algumas delas estão permanentemente engajadas.

Essas “proteções” dificultam ou mesmo impedem a livre manifestação do sujeito em sua plenitude, com todas as consequências daí advindas, tais como doenças psíquicas e físicas.

É como se, nessas condições encouraçadas, o ser fosse um soberano em um cerco medieval, protegido por suas muralhas.

Mas sem a possibilidade de se manifestar fora delas, para além de seu bunker, pois se sente ameaçado.

Assim, é fácil ver por que os encouraçamentos dificultam e mesmo impedem o desenvolvimento pleno do ser humano e a sua chegada ao que Reich chamou de caráter genital, “de posse de uma economia da libido regulada”. Com tais bloqueios, ele não consegue descarregar sua energia com sucesso, através do orgasmo.

Isso quando tem energia.

Incapacitado para o desenvolvimento de um caráter genital, o indivíduo se torna neurótico ou mesmo psicótico, com diferentes graus de comprometimento.

A Análise do Caráter e a Vegetoterapia trabalham, que chamaremos aqui de Terapia Corporal, trabalham com a detecção e análise desses bloqueios e sua flexibilização, a fim de que a pessoa tenha mais momentos de plenitude (momentos de “genitalidade”, para usarmos a terminologia reichiana) e que, ao menos, amadureça ou lide melhor com suas características herdadas de seus anos de desenvolvimento.

Para tanto, o médico neuropsiquiatra italiano Federico Navarro, discípulo de Reich, desenvolveu uma série de actings – que, intencionalmente, não são chamados de exercícios, por seu propósito analítico e terapêutico. Eles são algumas das possibilidades do leque de técnicas da terapia corporal, em suas variedades pós e neorreichianas, disponíveis para tal flexibilização.

No decorrer destes artigos, que serão publicados quinzenalmente, pretendo explicar de maneira simples os detalhes da Terapia Corporal: os segmentos de couraça, suas características, os tipos de caráter segundo Reich e seus predecessores, como é a Terapia Corporal e também outros textos relativos à terapia, comportamento, relacionamentos pessoais, diversos outros temas que dizem respeito aos nossos afetos e emoções e como tudo isso pode ajudar você.


Para ir além

NAVARRO, F. Somatopsicologia. São Paulo: Summus, 1996.

REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

VOLPI, J.H.; VOLPI, S.M. Etapas do desenvolvimento emocional. Curitiba: Centro Reichiano, 2006. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.

VOLPI, J.H.; VOLPI, S.M. Reich: da vegetorerapia à descoberta do orgone. Curitiba: Centro Reichiano, 2003.

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