O corpo fala, mas tem gente ensinando um idioma torto

Cuidado como você tenta interpretar a linguagem corporal alheia e com profissionais que tentam ensinar esse recurso com segundas intenções ou sem embasamento científico

Braços cruzados, sim, podem significar que a pessoa está fechada a você ou ao que você está dizendo.

Mas pode ser que ela esteja só descansando os membros superiores ou tão somente com frio.

É o exemplo mais simples de como a linguagem corporal deve ser interpretada a partir de um contexto e não isoladamente.

E não só de um contexto momentâneo, mas relativo a toda a história do sujeito analisado. Sobretudo em situações terapêuticas.

Wilhelm Reich não passou décadas de sua vida estudando as couraças musculares, como se formam e como manifestam fisicamente as neuroses à toa. É um tema complexo.

A situação corporal de uma pessoa é algo que deriva de acontecimentos que vêm desde o útero e, se considerarmos as questões dos pais desse sujeito, desde antes.

Recentemente o doutor José Henrique Volpi, psicólogo reichiano, publicou no site do Centro Reichiano o breve texto O Corpo Explica, Mas Cuidado, em que chama a atenção para isso.

Destaco o parágrafo:

“É um ato extremamente irresponsável o que vemos por aí, de pessoas que se dizem profissionais da área (e não são), vendendo cursos e mais cursos prometendo milagres, financeiros acima de tudo, onde o dinheiro é mais importante do que chamar a atenção para o excelente recurso que poderíamos ter em mãos se soubéssemos utilizar com sabedoria, ética, respeito e muito mais, não como um recurso isolado porque isso NÃO FUNCIONA.”

De fato, existem diversos cursos e livros por aí prometendo de tudo a respeito do entendimento de como a linguagem não verbal funciona e de como podemos tirar proveito disso. Infelizmente, diversos deles são improdutivos – por vezes em suas intenções, por vezes no conteúdo que ensinam e por vezes, ainda, nos dois quesitos.

Uma das maiores balelas a respeito da linguagem do corpo e que é muito repetida nesses cursos e livros é que 80% da comunicação é não verbal.

Se assim fosse, poderíamos assistir a um filme russo sem legendas, mesmo sem conhecer o idioma, e entender tudo. Afinal, 80% da comunicação é não verbal, não é mesmo?

Infelizmente, isso não é verdade.

A linguagem não verbal – emitida pelo corpo, pelas micro expressões faciais, pela proxêmica (distância entre as pessoas e objetos no ato da comunicação), tom, projeção e velocidade da voz e outros elementos – é importante.

Mas sempre num contexto.

E o contexto terapêutico, não podemos deixar de frisar, envolve aquilo que o cliente/paciente está dizendo, o que ele não disse ainda e o que ele jamais dirá, mesmo que para sua ou seu terapeuta. E tudo isso tem a ver com sua história de vida. Não é algo que se resolve com um bater de pestanas.

Portanto, ao escolher um curso ou mesmo uma abordagem terapêutica que envolva o entendimento do que o corpo nos diz e de como ele pode ser o caminho para uma vida mais plena, prefira os com embasamento científico. É fácil fazer isso: descubra como os professores, autores e terapeutas fizeram sua formação e em que base teórica e prática seus conhecimentos têm base.

Em caso de dúvida, cruze os braços.


Para ir além

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