10 perguntas para quem diz: “Não gosto de criança”

De onde vem esse não gostar e para onde está nos levando

Você já ouviu alguém falar que não gosta de crianças?

Não poucas vezes, quem diz isso afirma como se fosse a coisa mais natural ou até mesmo a expressão mais afirmativa da própria individualidade. Algo positivo que os outros têm que “engolir”.

Porém, essa frase tem muitos problemas, bem como os pensamentos e os comportamentos que ela sugere.

Vou dispor esses problemas em forma de perguntas e gostaria que você respondesse nos comentários abaixo ou no momento de compartilhar este texto em suas redes sociais:

1. Ok, se o sujeito não gosta da pessoa que é criança, supostamente é de se esperar que, em algum momento, ele passe a, ao menos potencialmente, gostar dessa pessoa, no instante em que ela não é mais criança. Quando é esse instante e o que marca essa transição que “isto” não é mais uma criança?

2. A pessoa que diz que não gosta de crianças já foi criança. Nesse período, ela foi gostada? E, se foi, como foi esse gostar? E, se não foi, o quanto disso é responsável pelo desencadear do seu não gostar?

3. Crianças são um grupo de pessoas com certas características marcantes. É correto dizer que não se gosta de um grupo de pessoas por ele ter certas características físicas e comportamentais? Em outros contextos, qual o nome desse “não gostar”?

4. “Não, você não está entendendo! O que eu quero dizer é que eu não sei LIDAR com crianças.” Mas não saber “lidar” com crianças é um problema das crianças ou um problema da pessoa que não sabe “lidar” com as crianças?

5. É possível gostar de crianças, mas não gostar de um tipo de comportamento infantil e, portanto, de uma parte específica do grupo crianças que apresenta esse comportamento. Porém, por que essa pessoa não gosta desse comportamento e o que leva esse comportamento ser supostamente inaceitável para uma criança?

6. Se alguém diz que gosta de crianças, mas não gosta de crianças com certo comportamento inadequado, será que esse comportamento é inadequado mesmo ou apenas no contexto de uma sociedade neurótica. Ou, se é um comportamento SUPOSTAMENTE menos saudável, o que está levando a criança a esse comportamento que a faz ser não gostada?

7. Mesmo as pessoas que dizem gostar de crianças, elas realmente gostam de crianças, permitindo-lhe o desenvolvimento criativo, sem podar sua energia natural e expressividade? Considere o processo escolar: ele torna as crianças mais criativas ou as castra?

8. O que as crianças têm que nos dá tanto medo a ponto de alguns de nós dizerem que não gostam de crianças e outros dizerem que gostam sem gostar de fato ou que gostam desde que elas sejam “boazinhas”? O que é ser “boazinha”?

9. É possível não gostar de crianças e ser pai ou mãe ainda assim? E é possível não ter a menor vontade de se ser pai ou mãe e, ainda assim, gostar de crianças? E o que a frase “só gosto das MINHAS crianças” sugere?

10. Gostar de crianças pede necessariamente o convívio com mais crianças?

Ela, a criança, ainda está presente naquele instante e todas as terapias são feitas com esse ser frágil que ainda existe em nós e que está ferido mortalmente.

De minha parte, só posso concluir que as crianças são um fato básico da humanidade (chega a ser ridículo ter que escrever uma coisa óbvia dessas). Ninguém nasce adulto e, por outro lado, ninguém é criança para sempre.  Gostar ou não gostar delas não é uma opção.

Lembro sempre daquela frase mal atribuída a algum autor que diz que o “menino é o pai do homem”. Ao mesmo tempo, sempre que alguém surge à minha frente com um problema, tento olhar, por trás da carne, mas na carne também, a criança que ela um dia foi.

Ela, a criança, ainda está presente naquele instante e todas as terapias são feitas com esse ser frágil que ainda existe em nós e que está ferido mortalmente.

Geralmente, ferido por um não gostar.

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