Já fui tarde
Oremos, portanto, pelas árvores e, sobretudo, não falemos dos imbecis, não agora. Perdi o superpoder da tolerância, que João do Rio prescrevia a todo e qualquer cronista. Dane-se. Falemos dos imbecis somente quando necessário
Oremos, portanto, pelas árvores e, sobretudo, não falemos dos imbecis, não agora. Perdi o superpoder da tolerância, que João do Rio prescrevia a todo e qualquer cronista. Dane-se. Falemos dos imbecis somente quando necessário
A humanidade se define, em parte, pela rica diversidade de seus sonhos. Conheci um menino que sonhava em ser padeiro. Já escrevi sobre ele, anos atrás. Todos os seus amigos sonhavam com a fama e a posteridade. Queriam ser jogadores de futebol, gamers, artistas de tevê, atores de teatro, MCs, políticos, ativistas. Ele só queria fazer pão
Também gosto do brilho dos postes na áspera granulação do asfalto molhado. Imagino a chuva ladrilhando as ruas com as tais pedrinhas de brilhante da canção de ninar. É bonito
Pergunto quem compôs aquela canção e o homem diz que foi ele mesmo, e até estranha a minha pergunta, achou que eu o conhecesse de antemão, fiz muito sucesso anos atrás, não me reconhece? Eu digo que não, e me desculpo por aquele lapso, sou muito distraído, não entendo nada de música
Nas ruas, as pessoas se dividem em duas categorias básicas, reducionistas: as que usam e as que não usam máscara. Diante isso, concluo eu, uma única pergunta continua, e continuará, por muito tempo, a me assombrar: depois de 605 mil mortos, o que nos custa esconder metade da cara?
Noto um movimento incomum na copa de uma palmeira, a uma quadra do meu prédio. Uma de suas folhas cai, pesadamente, na esquina da XV com a Faivre. Ali embaixo um homem a recolhe e, com perícia, a lança pelos ares de modo a fazê-la pousar, agora suavemente, sobre uma pilha de outras folhas, já murchas, à espera da remoção
E neste estressante setembro de 2021, eu, que não creio e nem quero crer, que nunca pedi nada e tudo ganhei, enfim suplico: “Senhor, assobiai de uma vez!”
É preciso andar, as pernas pedem, o sangue exige isso de nós. Ando, e dificilmente não me entristeço durante a caminhada
Há um pequeno ipê-amarelo que, faz tempo, acompanho da minha janela. Está em algum lugar da Comendador Macedo. Nunca o vi de perto. Este ano não floriu. Será que morreu? Visto duas máscaras e vou averiguar
Mesmo debaixo de blusas e casacos, mesmo enrolada em xales e cachecóis, mesmo de gorro e máscara, mesmo vinte quilos mais pesada que o habitual, eu a reconheço
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