Um olhar cético sobre as federações partidárias

Acordo entre Cidadania e PSDB pode ser a salvação dos dois partidos, pelo menos para garantir cadeiras na Câmara Federal e manter acesso ao Fundo Eleitoral

É muito notável o desmanche que o PSDB tem sofrido desde as eleições de 2018. Em 2014 eram 66 deputados, sendo a terceira maior bancada da Câmara Federal, hoje, possui 31 cadeiras, a sétima maior bancada. A derrocada foi acompanhada no Paraná neste período, pois foram de 7 deputados estaduais para somente 3, sendo que 2 estão em vias de sair (Paulo Litro e Traiano) para o PSD, partido do governador.

A situação do Cidadania é mais dramática. O antigo Partido Popular Socialista (PPS) conseguiu eleger 10 deputados federais em 2014, hoje são 8. Em compensação, na Alep a bancada foi de 2 para 3 deputados estaduais. A situação é dramática pelo seguinte fato: foi estabelecida a cláusula de desempenho e o fim das coligações eleitorais, em 2017, significa que, em 2022, o Cidadania precisa conseguir 11 cadeiras na Câmara Federal para poder ter acesso ao Fundo Partidário, o principal meio de sustento de todos os partidos.

Unindo o útil ao agradável, foi decidida a federação entre estes dois partidos, embora não seja unânime entre os filiados do Cidadania, união com coerência histórica. O, então, PPS apoiou a candidatura de Alckmin no segundo turno em 2006, embora não coligado por questões das regras eleitorais da época. Em 2010 participou da coligação de José Serra. Houve uma pausa nesta aproximação em 2014, quando o PPS se integrou na coligação de Marina Silva (PSB), porém, no segundo turno, declararam apoio formal a Aécio Neves.

No Paraná, esta relação começou a ser mais estreita a partir de 2010, quando o PPS coligou com o PSDB para apoiar Beto Richa, repetindo em 2014. Porém, em 2018, cada um seguiu um rumo. O PSDB foi com Cida Borghetti do PP e o PPS/Cidadania com o Ratinho Júnior do PSD. Atualmente ambos compõem a base governista.

Em linhas gerais, pode se interpretar que, devido ao declínio eleitoral de ambos os partidos, junto a uma incerteza eleitoral do PSDB e o desespero do Cidadania em atingir a cláusula sem a possibilidade de coligação, foi decidida esta união. Se a federação obtiver mais de 11 cadeiras, independentemente se o partido de Roberto Freire tiver uma marca maior ou menor, garantirá o seu sustento.

Alessandro Vieira. Foto: Roque de Sá/Agência Senado.

E as eleições para o governo do estado e federal?

O diabo mora nos detalhes, como diz o ditado. A federação não é uma coligação, e muita gente tem interpretado dessa forma. Inclusive essas foram as palavras do, até então, pré-candidato à Presidência Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Enquanto a coligação tinha o caráter temporário só para acordos eleitorais, a federação é mais engessante e funciona como se fosse um casamento com tempo determinado. Os partidos que resolveram criar esta aliança, são obrigados a permanecer a ela filiados por no mínimo quatro anos com abrangência nacional a despeito das disputas regionalistas. E aí que está o pulo do gato.

Já em 2021, o Cidadania tinha acordado o apoio à reeleição do Ratinho. O PSDB, por outro lado, está forçando a candidatura de Silvestri Filho, ex-prefeito de Guarapuava, para o governo do Paraná. Curiosamente, Silvestri era filiado ao Cidadania até 2019, quando saiu para o Podemos e ficou até o início de 2022. Quando Álvaro Dias (PODE) acordou em não lançar candidatura ao Palácio do Iguaçu, Silvestri se mudou para o PSDB. Entretanto o Cidadania bate o pé e continua querendo apoiar Ratinho. Mas há muito chão e o histórico de Silvestri pode ser um ativo para conquistar essa base de apoio. Porém isso demonstra que os partidos estão confundindo as coisas, não considerando algumas variáveis ao propor estas uniões. Isso pode ser visto na praticamente frustrada federação do PSB com o PT, atingindo diretamente a política paranaense, onde o PSB é governo e o PT é oposição. Inclusive, é provável que os petistas lancem Requião para o governo do estado.

Retomando à união Cidadania e PSDB, este desalinho também é sentido na eleição nacional. Os dois partidos possuem pré-candidatos, Alessandro Vieira, pelo Cidadania, e João Dória, pelo PSDB. Duas candidaturas tidas como certas as suas derrotas. Porém, não deixam de ser importantes na divulgação de seus partidos ao aparecerem em debates e no horário eleitoral. Especialmente ao Cidadania, partido muito menos conhecido e que busca ser uma opção de centro a longo prazo, embora haja muitos problemas internos que deveria reavaliar para dar os seus próximos passos.

Esta foi a primeira federação acordada para 2022, possibilitada pelas situações dos dois partidos, além de possuírem aproximações ideológicas. Outras federações que se tem debatido pela imprensa devem ser olhadas com muito mais ceticismo. Afinal, tem se dado muita atenção à política nacional em detrimento da regional e local, que possuem um poder de barganha considerável, pois ali é que se concentram grandes cabos eleitorais. Se desagradar estes atores políticos, estes têm capital suficiente para uma retirada em massa de tais partidos, a ponto de transformar a federação numa soma zero, senão em prejuízo eleitoral.

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