Certos sonhos são feitos para que você acorde. Noite dessas sonhei com a Dona Odilia, minha avó que morreu em 2014 aos 79 anos, e que eu amava muito. Alguém já disse que avós e árvores têm que ser muito abraçadas na vida.
Sonhei que estávamos na casa da Dona Odilia, num desses finais de semana de almoço em família, todos sorrindo e descontraídos. Sempre que sonho com algum morto a pessoa está muda, somente olha e sorri. Nesse sonho, não. Ela estava falante e feliz e nada de excepcional estava acontecendo – tipo eu estar pelado na mesa de jantar.
Então, antes de irmos embora, ela pegou o telefone e falou que ligaria para marcar “aquela” consulta para mim. Eu perguntei que consulta? Aquela do sarampo, ela disse. Achei que era brincadeira, falei que já fui vacinado ou algo assim. Mas ela pegou o telefone e discou um número. Quando alguém atendeu ela disse para esperar um pouco e me passou, com um sorriso no rosto – era um telefone antigo, anos 80, igual ao que tinha lá em casa na minha infância.
Quando peguei o telefone a pessoa do outro lado da linha disse: vamos marcar aquele exame de próstata? Fiquei perplexo e continuei perplexo quando acordei. Assustado e ao mesmo tempo impressionado e feliz com a artimanha da Dona Odilia. Mesmo depois de tanto tempo, ela continua cuidando de seu neto como se ele tivesse… bem, 46 anos.
E teve a elegância de não pronunciar “próstata” no meio de todo mundo. De imediato lembrei de Gilberto Dimenstein, que descobriu um câncer depois de um sonho realista. Bem, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar – ainda mais naquele lugar.
De qualquer maneira, tenho que agradecer minha avó e gostaria de fazer isso abraçando-a. Mesmo que mentalmente. E assim que passarem as festas de fim de ano, a primeira coisa que farei é marcar meu exame de sarampo.
Boas festas.
Benett brilhante no desenho e no texto. Leve, divertido, pertinente.
Kkkkkkk marcarei o meu também.