Qual é o lugar do negro nas eleições da Região Metropolitana de Curitiba?

Apenas cinco cidades da região terão vereadores que se declaram como negros

A vereadora eleita Carol Dartora fez história, com grande votação será a primeira vereadora negra de Curitiba. A surpresa tomou conta das redes sociais e a eleição virou notícia no Brasil. Feliz, compartilhei a matéria do Plural que destacou esta conquista, e logo recebi o comentário de um tio meu, negro, que dizia: “O mundo só será melhor no dia que não fizerem da eleição de uma ‘negra, feminista’ para um cargo político um fato histórico!”. Eu fiquei em dúvida se ele queria afirmar que vitórias como esta têm que se tornar comuns ou se acha que representa pouco a eleição da professora.

As dúvidas se dissipam quando vejo na página do Plural comentários que são ainda mais diretos na opinião. “A cor não faz a competência e muito menos o caráter, portanto, foi eleita uma vereadora para trabalhar pelo povo e pela cidade. Parabéns vereadora e faça bem feito. Chega.de mimimi.” Dizia um. Outros seguiam com “Acredito que foi eleita pela competência e integridade. Não pela cor” e “Notícia absurda não tem nada haver com cor, se ela foi eleita é por competência e a proposta dela é melhorar as coisas para os munícipes”. (SIC)

Pensei que caberia uma pesquisa mais aprofundada sobre o histórico eleitoral de minorias nas câmaras da Região Metropolitana de Curitiba. Em uma outra pesquisa que havia feito para o município de São José dos Pinhais, já havia notado que as candidatas mulheres estavam majoritariamente no grupo de menos votadas na cidade. Claramente, nas eleições ainda falta espaço para as minorias étnicas e de gênero. Considerando meu lugar de fala, tudo isto me levou a pensar:

– Qual é o lugar do negro nas eleições da Região Metropolitana de Curitiba?

A Carol Dartora não é apenas a primeira mulher negra da Câmara de Curitiba. É também a única mulher negra eleita nestas eleições em todos os 29 municípios da Região Metropolitana. São 342 novos vereadores e vereadoras.

Não sendo neste momento possível fazer a pesquisa ideal, fui ao site do TSE buscar alguns dados que pudessem contribuir com o debate.

Antes dos dados eleitorais, cabe consultar o Censo Demográfico de 2010, que demonstra que na Região Metropolitana de Curitiba 74% da população se declara como branca, 21% como parda, 3% preta e 1% amarela. Como o IBGE classifica de acordo com a autodeclaração, temos de primeira a visão de como o morador da nossa região se vê como branco. No Brasil, a taxa de não-brancos é de 52%, nas regiões de Manaus e Belém este número chega a 75%.

A baixa representação do negro em Curitiba e Região começa na escolha dos candidatos. Entre os 3.548 candidatos a vereador daqui, 2.844 são brancos, ou seja, 80%. Já entre os 342 eleitos, 299 são brancos, 32 pardos, 10 pretos e 1 amarelo. Quem diz que o sucesso é produto meritocrático de competência e integridade, diz mesmo sem intenção que o negro não é competente e íntegro, já que só 13% dos eleitos não são brancos. Das 29 cidades analisadas, em 11 toda a câmara será composta por brancos: Agudos do Sul, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo do Tenente, Campo Magro, Cerro Azul, Fazenda Rio Grande, Piên, Quitandinha e Rio Negro.

Sem considerar os pardos e amarelos, só cinco cidades terão vereadores que se declaram como negros: Araucária, Colombo, Curitiba, Pinhais e São José dos Pinhais.

Assim, o desempenho da Carol Dartora deve ser comemorado, principalmente por ela ter total consciência da importância de ser uma mulher negra no parlamento. Tanto é que parte de sua campanha destacou o ineditismo que seria sua vitória. Mas além dela, outros candidatos pretos tiveram destaque. Em Curitiba, Herivelto Oliveira e Renato Freitas também foram eleitos. Em Colombo, Anderson Prego foi o mais votado entre todos os candidatos, assim como Aparecido da Reciclagem em Araucária. São vitórias pontuais quando visto o todo.

Neste ano, um dos debates do período pré-eleitoral foram as cotas financeiras para candidatos negros. Basicamente, a regra determina que se um partido tiver 40% de candidatos negros, estes deverão receber 40% dos recursos e do tempo de propaganda gratuita. Os números deixam claro que é uma decisão mais do que necessária, e só assim as nossas vitórias poderão deixar de ser novidade. Ainda falta muito para que tenhamos representatividade entre os tomadores de decisão, entre quem faz e executa as políticas públicas, e entre quem legisla.

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3 comentários em “Qual é o lugar do negro nas eleições da Região Metropolitana de Curitiba?”

  1. Em Colombo foi reeleito o vereador Anderson Prego, a maior votação do município !Parabéns a ele e a todos que votaram conscientemente por igualdade social e justiça, segundo preceitua a CF/88.

  2. Iolanda Gomes De Lima

    Parabéns Allan José, pelo empenho, dedicação e compromisso com responsabilidade e profissionalismo.
    Trás informações importantíssima para a população.

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