O único feliz dia das mães possível é a prisão de Bolsonaro

Não é possível criar crianças sem crer num futuro melhor. Mas o Brasil de Bolsonaro e dos bolsonaristas é um país sem futuro

Não sou uma pessoa dada a ter ídolos. Nem sou do tipo que consegue ignorar falha naqueles que são elevados a categoria de deuses entre os mortais. Por outro lado, sou uma pessoa otimista e sempre espero o melhor, algo que se acentuou depois que me tornei mãe. Não é possível criar crianças sem crer num futuro melhor. A minha vida é melhor do que a dos meus pais foi. É o mínimo esperar que a vida de meus filhos evolua da mesma forma.

Sou brasileira. Vi muitos presidentes sendo eleitos, alguns com meu voto. Todo governo, seja ele destinatário do seu voto ou não, é uma promessa de futuro. Desde que vi minha primeira pose de um presidente eleito aprendi a cultivar em mim a esperança de uma vida melhor.

Não se trata de querer ser salva por um super-herói, mas de esperar que um presidente tome decisões e que estas tenham consequências positivas para o país. Claro, haverá equívocos, erros, má gestão, corrupção. A democracia é construção, evolução permanente, não estado fixo. Mas algo precisa dar certo e empurrar o Brasil um pouco para frente.

Foi nesse espírito que recebi a notícia, com minha caçula recém-nascida nos braços, da eleição de Jair Bolsonaro. Tomara que ele dê certo, pensei. Que o empresariado – confiante com um presidente cuja eleição apoiou – voltasse a investir. Que a vida voltasse a algum tipo de normalidade e o trabalhador pudesse novamente pagar suas contas e viver. Que as piores ideias acabassem barradas pelas instituições, como acontece em toda democracia, afinal o presidente não é um líder absolutista.

Óbvio que como qualquer pessoa informada, não era isso que o que sabíamos sobre Bolsonaro parecia indicar. Ele foi sempre um parlamentar medíocre e alcançou a notoriedade garantindo espaço nos principais veículos de comunicação com todo tipo de lugar comum e estupidez. Mas a esperança é um bicho forte e a minha continuou a esperar o melhor.

Há mais de um ano, porém, o Brasil é um país sem futuro. A pandemia continua matando milhares todos os dias e deixando outros milhões com seqüelas. Não há emprego. Os investimentos estão parados. Destruímos nosso relacionamento com nossos principais parceiros comerciais. E não há movimento nenhum tentando reverter nada disso.

No início de 2020 o país já havia vivido um ano de destruição das universidades públicas. a guerra contra a ciência, um desfile de gente incompetente, grosseira, pouco civilizada os cargos mais importantes do país.

Daí veio a pandemia e desde o início ficou muito claro que Bolsonaro não tinha qualquer intenção de fazer qualquer coisa para conter o caos. O método, é evidente para qualquer pessoa letrada e que não tenha ficado totalmente cego, é manter o caos, alimentar o caos, porque um país em convulsão se mantém refém da mentira, das “soluções fáceis”, do discurso vazio e populista e da busca incessante por inimigos inventados.

Bolsonaro promoveu o “tratamento precoce”, uma ideia perigosa que colocou a população em risco e que por anos vai encher os hospitais do país de gente com problemas causados pela ingestão de remédios que nada fazem para conter a Covid-19, a não dar uma esperança vã. Ele atuou para minar a relação do país com a China, maior fornecedor de suprimentos médicos no mundo, nos deixando à mercê de uma guerra inventada. Desqualificou com falas e gestos o uso da máscara, única forma real e comprovada cientificamente de evitar a Covid-19.

Pior, deu voz aos idiotas, aos canalhas, aos que andam orgulhosos na rua sem máscara, exibem com sorriso no rosto a caixinha de vermífugo na amostra mais clara de burrice que já se viu nesse país.

Mas o pior foi ter, por um lado, não feito nada para reverter os cortes nos programas de pesquisa das universidades brasileiras, o que nos ajudaria a desenvolver vacinas próprias (coisa que já havíamos feito outras vezes) e a atuar em parceria com outras organizações de outros países, garantindo a possibilidade de fabricação da vacina aqui. Por outro, agir ativamente para atrasar e evitar que duas instituições brasileiras, a Fiocruz e o Butantan, pudessem concluir os testes clínicos e começar a produzir suas vacinas.

A CPI no Senado não vai revelar nada novo. Isso tudo aconteceu às claras. Bolsonaro tentou evitar que tivéssemos vacinas feitas aqui. E a ação dele atrasou e atrasa a produção da única esperança que temos contra a doença.

Todas essas ações prejudicaram diretamente a vida de milhões de brasileiros, em especial as mães. Milhões de crianças estão fora da escola, se virando para aprender sem recursos, sem acompanhamento e precisando do apoio de pais e mães estressados, sobrecarregados e investidos em conseguir se virar num país cuja economia está derretendo.

O Brasil voltou a sentir fome, o que quer dizer principalmente que crianças estão passando fome. A fome mata. Mas quando não mata, destrói o futuro porque prejudica o desenvolvimento da criança em seu momento mais crucial. Para mim, que tenho o luxo de saber que meus filhos têm o que comer, a fome representa uma angústia, a de tentar entender como é que pode um país que é o celeiro do mundo não conseguir alimentar os seus.

A destruição que está por todo lado vai cobrar seu preço por anos. Nem a criança mais protegida irá esquecer esse tempo em que ficamos sem futuro, sem perspectiva, com medo do que não podemos ver. Vendo pessoas queridas perdendo os seus para uma doença evitável. Como mãe é uma dor imensa não poder poupar meus filhos disso.

Pior ainda é olhar em volta e ver tantos inertes ou atuando para garantir a agenda nefasta de Bolsonaro. O governador que se anula e se esconde enquanto milhares paranaenses perecem em UTIs cheias de profissionais pouco qualificados, elevados às pressas a funções que exigem anos de qualificação. Um judiciário que permanece indiferente a tantas violências, da criança fora da escola a falta de critérios técnicos na vacinação. E um prefeito que se serve de brioches enquanto milhares mendigam nas ruas, reviram o lixo e mais da metade das crianças têm o direito fundamental à educação negado.

Toda mãe está dando mais do que pode para manter um mínimo de normalidade. Muitas estão enfrentando o machismo doméstico que as deixa sozinhas lidando com o básico enquanto também se vêem desprezadas no mercado de trabalho.

Como mãe meu único sentimento é de desgosto, de nojo, de raiva de quem ainda se fecha os olhos, dá de ombros e larga um “mas e o Lula?”. Não há mais meia palavras para quem está em cima do muro. São canalhas, são assassinos. São a mão em torno do pescoço dos que morrem ser ar, sem amor, sozinhos numa UTI. Para Bolsonaro e todos que estão com ele ou não estão contra ele só há uma coisa a desejar: justiça.

Neste dia das mães, o mais triste que já vivi, o único presente possível é ver Bolsonaro preso. Não é possível vislumbrar um país, um futuro ou mesmo um Deus sem que alguém que desdenha da morte e do sofrimento alheio seja chamado a se responsabilizar por seus atos. Quer presentear uma mãe? Vá para as ruas exigir que isso aconteça.

Porque o que nós mais queremos é um futuro. E enquanto o bolsonarismo não acabar ele não existirá.

Sobre o/a autor/a

5 comentários em “O único feliz dia das mães possível é a prisão de Bolsonaro”

  1. Parabéns pela clareza.
    Vamos às ruas sim.
    Temos alguns motivos, como conformação deste nosso ignorante e apolítico povo,
    mas certamente teríamos ido, mais ou menos intensamente.
    Mas até a pandemia está jogando a favor desse energúmeno “presidente”.
    O dia dele logo chega.

  2. Gostei do texto. Concordo com tudo. só não gostei do título. Rezamos tanto pra ver Lula preso, depois de roubar tanto e permitir que outros roubassem e quase quebrassem o país também, e hoje vemos ele saltitando por aí como futuro presidente de novo. então ver um Presidente na cadeia parece triste, porque depois ele sai como mártir. Prefiro ver o atual presidente esquecido, sem mandar em nada, e não eleito pra mais nada. insignificante como realmente é. seria o pior castigo, não é? mas enfim, vamos lá, tentar reacender a esperança de dias melhores.

    1. Pensamento moldado por fakenews de whatsapp e facebook… como pensar em um país melhor se as pessoas ainda pensam assim diante das evidências – e da falta de evidências – de tantas coisas…??? Queira seu deus que você nunca passe pelas mãos de juiz e mp conluiados, cometendo crimes…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima