O ensino técnico público, gratuito, como oportunidade de reinserção na retomada

Educação profissional, em especial a chamada “subsequente”, tem caráter inclusivo e precisa ser defendida pela sociedade

Estou perto de completar dez anos de magistério, lecionando todo esse tempo na rede estadual de ensino do Paraná, em cursos da educação profissional. Os desafios são cotidianos, todavia 2020 foi, disparado, o de maiores dificuldades. Mas de boas reflexões também.

A exclusão digital e o desemprego têm exigido das equipes pedagógicas esforços redobrados para combater evasões, para assegurar que todo mundo tenha garantido seu direito às aulas. Ao mesmo tempo, todas essas adversidades fizeram reafirmar a seguinte constatação: a da importância do ensino técnico, público, gratuito, no período noturno, como instrumento de inclusão.

Sobretudo nos cursos da modalidade “subsequente” – isto é, voltados a quem já concluiu o ensino médio – essa importância se mostra mais latente. Tais cursos têm como característica marcante atender a um população bastante heterogênea.

Historicamente, as turmas reúnem desde o jovem saindo da adolescência, egresso do terceirão, até o veterano, com até meia dúzia de décadas de vida, em busca de atualização de conhecimentos, de reexperimentar a sala de aula. Há desde os que “caíram de paraquedas”, e logo se acham, até aqueles com larga experiência prática, profissional, e que voltam à escola para obtenção da qualificação formal.

Para 2021, quando, esperamos, enfim sairemos da pandemia para retomarmos certa normalidade, a educação profissional subsequente ao ensino médio terá função ainda mais significativa. Ter a opção de escolher um curso técnico; realizar essa escolha, iniciar e desenvolver os estudos, tudo isso tem potencial de gerar efeitos sociais extraordinários.

É um (re)encontrar caminhos, motivações; um alimentar de esperanças. E traz “resultados” mais concretos e práticos também: a formação técnica amplia as possibilidades de trabalho; melhora desempenho e recompensas de quem já está empregado.

O Colégio Estadual do Paraná, o maior da rede pública, está com inscrições abertas para uma porção de cursos técnicos (www.cep.pr.gov.br). Outras unidades de ensino, em outros bairros, em outras cidades, também têm os seus. Onde não os há, as comunidades têm o direito de exigi-los.

O ensino técnico profissional público no Brasil foi sucateado nos anos 1990, recuperado e consolidado nas duas décadas seguintes. Precisa ser defendido pela sociedade, como estamos a fazer com o SUS, por exemplo. Estudar, em qualquer idade, é saúde – física, mental, social.

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