No dia das professoras vamos agradecer pela proteção de nossas filhas

Muitas das denúncias de abusos contra crianças são feitas por professoras que observam alunas e alunos e percebem que há algo errado

Quatro meninas de até 13 anos são estupradas a cada hora no Brasil. Em 2020, das 95 mil denúncias de violência contra crianças no país, 14 mil foram de abuso sexual, estupro ou exploração sexual. Em 2019, haviam sido 17 mil crianças abusadas e em 2018, 32 mil vítimas de abuso. Olhando rapidamente, parece estar havendo uma redução de casos, mas estes números não são reais, apesar de assustadores, já que a maioria das sobreviventes de violência infantil, não têm condições de  registrar ou denunciar os abusos. 

Os registros de denúncias de abuso infantil diminuíram 29% com o isolamento social, houve, também, redução no atendimento de crianças vítimas de violência sexual no Hospital Pequeno Príncipe durante a pandemia. Estes dados foram levantados pela jornalista Mauren Luc e publicados no Jornal Plural, em outubro de 2020, há exatamente um ano. Então, podíamos comemorar que menos crianças estavam sendo abusadas? Não, a redução pode ter ocorrido exatamente porque elas não estavam indo para a escola. Portanto, não puderam ser protegidas. 

Estupros acontecem todos os dias no Brasil, 73% dentro da casa das vítimas, de acordo com Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. No livro o Feminismo é Para Todo Mundo, bell hooks (2018) dedica um capítulo a tratar da violência doméstica como uma das intervenções positivas do feminismo contemporâneo lembrando que crianças também são vítimas da violência de familiares. 

Por que trago estes números para marcar um texto que quer celebrar o dia 15 de outubro? Porque muitas das denúncias, que resultam em proteção e salvamento de crianças abusadas, são feitas graças às professoras que observam alunas e alunos e percebem que há algo errado. Percepção que muitas vezes quem cuida (pais, mães e responsáveis) não têm. Então, agradecer a professoras (e professores, mas só aqueles que não são assediadores) é necessário porque atuam como salvadoras de crianças.

Por que será que crianças e adolescentes confiam em professoras para pedir ajuda e não confiam na família para pedir apoio? Pode ser porque 84,1% dos homens que abusam (assediam e exploram) são familiares ou pessoas de confiança. A confiança vem para quem está fora do círculo familiar, mas dentro das relações de afetividade.

Agora, se os abusos são tão comuns, tanto eu quanto você convivemos com vítimas (muitas vezes, sem saber de suas tragédias) e com abusadores (de quem talvez até desconfiamos, mas que preferimos fechar os olhos?). Se a maioria de nós não se posiciona, quem protege e salva as crianças de familiares abusadores? As professoras.

Então, neste dia das professoras você pode aproveitar para agradecer a essas profissionais tão pouco valorizadas por nossa sociedade. Pode, também, denunciar agressores e assediadores que você conhece, mesmo que por meio de denúncias em segredo para outras mulheres pensando em proteger as novas vítimas. Denúncias formais podem ser feitas na delegacia, pelo Disque 100, ao Ministério Público e aos Conselhos Tutelares. 

Serviço:

Disque 100: É o canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. É só discar o número: 100, tanto de telefone fixo, quanto celular. As ligações são gratuitas de todo o Brasil. Há atendimento 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. 

Conselhos Tutelares: Os Conselhos Tutelares estão distribuídos pelos bairros das cidades.  Procure o mais próximo da casa da criança. Em Curitiba há esta lista: https://crianca.mppr.mp.br/pagina-1318.html

Ministério Público: O MP tem centrais de atendimento divididas pelas cidades. Esta lista traz os contatos das centrais no estado do Paraná: https://mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=7343

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