Meu recado a endividados e credores

A nova legislação veio dar a oportunidade de reorganizar a vida financeira do brasileiro, e essa é uma necessidade urgente

Em minha atividade como mediadora de dívidas, aprendi muitas coisas. A primeira é que negociar é uma arte, mas requer a disposição das duas partes. Tenho visto muitas pessoas em crise financeira e muitas empresas que não sabem mais como reaver seus créditos – e tenho um recado para todos vocês.

Após meses de crise financeira das famílias com a pandemia, agravou-se uma situação que gera um ciclo vicioso: a oferta de crédito irresponsável, com juros enormes, que, muitas vezes, levam o devedor a assumir novas parcelas, por vezes, altíssimas, a fim de se livrar das inúmeras cobranças e “limpar” o seu nome dos órgãos restritivos de crédito.  

Na impossibilidade de arcar com os pagamentos, a roda do endividamento nunca para de girar: no desespero, muita gente aceita repactuar contas em atraso por não ter conseguido pagar parcelas anteriores – colocando-se à margem do universo do consumo. Não poder manter uma conta em banco ou um cartão de crédito são algumas das consequências.

E como resolver essa situação sem negociação? Impossível! Por isso, aos credores, gostaria de dizer o seguinte: por vezes você acha que um devedor, cuja renda pareça alta, conseguirá automaticamente pagar o que lhe deve – mas o que muitas vezes ignoramos é o quanto essa pessoa já deve para outras empresas. E se ela não consegue demonstrar a capacidade de honrar dívidas, a conversa acaba ali e você não irá reaver seu dinheiro – nem parte dele.

Fica minha sugestão: opte pela negociação humanizada. Acredite, você só tem a ganhar com ela. Existe uma mentalidade que hoje se tornou antiquada: a do ganha-perde, quando, para alguém ter uma vantagem, outro necessariamente precisa sair prejudicado. Hoje isso não funciona mais. Havendo pré-disposição para a negociação, ainda que isso lhe exija ceder um pouco – seja em valores ou prazos – é possível alcançar o ganha-ganha.

Devedor, ao não conseguir diálogo direto com seu credor, e havendo desejo de negociar e “ajeitar” sua vida – o que é recomendável! –, busque os centros de mediação do Judiciário para demonstrar sua capacidade de pagamento. Isso é possível graças à chamada Lei do Superendividamento, a qual ampliou o acesso à justiça, para a mediação de dívidas entre as duas partes, o que antes era exclusivo para os chamados credores.

A nova legislação veio dar a oportunidade de reorganizar a vida financeira do brasileiro, e essa é uma necessidade urgente. Esse é meu recado às duas partes, e mais: a todos os brasileiros, sejam estes credores e/ou devedores, que desejam melhorar suas finanças.

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