Problema em rendimento de vacina em Curitiba está no uso e não no frasco, diz Anvisa

Averiguação apontou que perda pode estar relacionada ao uso de seringas maiores, de 3 ml

O prejuízo de quase sete mil doses da vacina Coronavac relatado pela prefeitura de Curitiba tem a ver com o uso de seringas não adequadas e não com a redução de volume adotada pela fabricante, afirmou nesta segunda-feira (17) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A conclusão é uma resposta às queixas feitas pela prefeitura da capital paranaense –endossada por outros municípios do país, inclusive em outras partes do Paraná – apontando que a nova apresentação dos frascos do imunizante produzido pelo Instituto Butantan diminuiu de dez para nove a quantidade máxima de aplicações por vidro, com impacto no Plano Municipal de Vacinação contra a Covid-19.

Os casos foram tornados públicos pela prefeitura de Curitiba há cerca de um mês. Na ocasião, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou ter sido obrigada a realocar 4.790 doses da remessa das vacinas Coronavac recebida na véspera para repor a quantidade de aplicações perdidas. Até então, a imprecisão havia provocado prejuízo de 6.773 doses no esquema vacinal – à época suspenso na cidade por causa da falta de vacinas.

Apesar de não ter dado mais detalhes, a SMS atrelou o menor rendimento à alteração do volume de envase da Coronavac, cujo conteúdo passou de 6,2 ml para 5,7 ml no início de março. Pelo menos outros cinco municípios paranaenses relataram o mesmo transtorno. A mudança no tamanho do frasco foi autorizada pela Anvisa, que recebeu milhares de queixas semelhantes às enviadas por Curitiba e agora concluiu que a relação sugerida pelas secretarias da Saúde não se confirma.

Os dados levantados pela agência indicam possíveis erros na retirada das doses, seja por defeitos nas seringas ou por uso de “seringas de volume inadequado para a dose a ser aspirada”. “Corrobora para a validade dessa hipótese o fato de que também há notificações de volumefaltante referentes às vacinas Fiocruz/Covishield/AstraZeneca”, diz trecho do ofício de resposta encaminhado pela Anvisa aos gestores estaduais e municipais.

“O IB [Instituto Butantan] se pronunciou sugerindo que a causa do volume inferior seria um somatório de fatores como a utilização de seringas com volume acima de 1 mL e técnica de aplicação inadequada. Em decorrência disso, a empresa protocolou junto à Anvisa alteração no texto de bula, incluindo a indicação da utilização de seringas de 1 mL para a aplicação da Coronavac”, informa o texto.

Segundo a Anvisa, o ideal para a aplicação da CoronaVac é o emprego de seringas de 1 ml. As de 3 mL – usada em Curitiba e as mais comuns na campanha em todo o país– podem gerar mais desperdício.  

O Ministério Público do Paraná (MPPR), que instaurou procedimento para acompanhar o caso, disse que pedirá para que o município de Curitiba e o governo do Paraná passem a seguir a alteração promovida na bula da vacina, a partir do informado e constatado pela Anvisa.

As análises foram feitas pela agência a partir de vistoria no Instituto Butantan em 20 de abril. Foram averiguadas documentações e etapas da linha de produção, levando em consideração os lotes mais reclamados nas queixas. As inspeções constataram que cada frasco produzido nos lotes tinha entre 5,5 e 5,9ml, o suficiente para 10 doses de 0,5 ml cada.

A SMS, por sua vez, respondeu que Curitiba ainda não foi notificada sobre o resultado da análise. Em nota, adiantou que desde o início da campanha de imunização na cidade, em 20 de janeiro, usa o mesmo modelo de seringa, com indicação de 0,5 ml por dose, e que o rendimento abaixo do esperado foi identificado em lotes específicos de Coronavac.

Erros persistem em SP

As reclamações feitas pela prefeitura de Curitiba e outras centenas de município vão ao encontro do resultado de uma avaliação feita pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP), com apoio do Observatório Covid-19 BR, que apontou quantidade insuficiente de doses nas envases.

Divulgada nesta segunda, a pesquisa mostrou que 44,4% dos frascos analisados renderam menos que as 10 doses indicadas pelo Instituto Butantan. Para o levantamento foram ouvidos nove municípios. Cada uma das secretarias da Saúde indicou uma enfermeira para se responsabilizar pela avaliação nos postos de vacinação já existentes.

Por causa da falta de insumos, a produção de Coronavac no Brasil está suspensa desde a semana passada. Hoje, o Ministério da Saúde declarou que o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) para a retomada da produção do imunizante pode chegar da China ainda este mês ao país.

O Brasil está longe de atingir um ritmo de vacinação contra a Covid-19 suficiente. A recusa de ofertas de compra do imunizante está entre as discussões centrais da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada no Congresso para apurar possíveis negligências do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) em relação à pandemia do coronavírus.

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2 comentários em “Problema em rendimento de vacina em Curitiba está no uso e não no frasco, diz Anvisa”

  1. “…O.O5 ml por dose” ? Isto está certo??? Como e onde isto pode ser medido em seringas descartáveis?! Por dose ???
    Outro trecho fala:
    “…frasco produzido nos lotes tinha entre 5,5 e 5,9ml, o suficiente para 10 doses de 5 ml cada.”. Milagre da multiplicação?!

    1. Oi, Abilio. Obrigada pela observação! Houve um erro na apresentação dos números, e o problema foi corrigido. Nos dois casos, são 0,5 ml. Cada dose da vacina é de 0,5 ml. Agradecemos.

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