Universidades de Curitiba voltam às aulas presenciais

Ensino superior privado começa a retomar aulas práticas de forma gradual

O fim da bandeira vermelha e do período de “lockdown” determinado pela prefeitura de Curitiba foi suficiente para que várias das principais instituições privadas de ensino superior da cidade tenham decidido voltar a ter atividades presenciais – apesar do momento ainda dramático da pandemia. O modelo é o híbrido, chamado de HyFlex, no qual o aluno escolhe se quer assistir on-line ou presencialmente.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) voltou no dia 12 de abril, com calendário definido para cada curso. “De acordo com as determinações dos órgãos responsáveis, a Educação Superior é considerada serviço essencial, o que possibilita que as aulas do período noturno continuem ocorrendo coincidentemente com os toques de recolher impostos pelos decretos governamentais”, diz a instituição em nota. “A Universidade iniciou a adoção de atividades presenciais para algumas disciplinas, de acordo com o modelo Hyflex, com atividades práticas de cursos que necessariamente precisam de presencialidade e adotou atividades presenciais e híbridas para proporcionar oportunidades de presencialidade à grande maioria dos estudantes.”

A Universidade Positivo também definiu um calendário específico para cada curso. O plano de retomada foi elaborado pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) e dividido em seis etapas, que incluem preparação do ambiente, protocolo de convivência, uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e medidas de orientação para o isolamento dos casos suspeitos ou confirmados da Covid-19.

A volta desagradou muitos alunos. “Nós acabamos de sair do mês mais crítico da pandemia para o nosso país e tudo indica que as coisas serão piores nos próximos meses. Voltar às aulas de forma prática e presencial não é uma boa alternativa, por isso o DCE é contra, precisamos levar em conta a segurança dos estudantes”, declara Lucas Miguel Bugalski, do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUCPR.

“Acredito que no momento atual do país, a única preocupação deveria ser com a vacinação de toda a população, e só depois pensar nas reposições de aulas”, declara um estudante de Medicina Veterinária, ouvido anonimamente pelo Plural. “Por mais que a UP tenha garantido todo um cuidado, com medidas de segurança para que os alunos se sintam seguros, não é o bastante. O contágio não necessariamente ocorre dentro do ambiente da universidade, pode ocorrer no percurso até lá, já que muitos utilizam o transporte público para se deslocar.”

UniCuritiba

Nem todas as instituições optaram pela volta imediata, porém. O UniCuritiba diz que leva em consideração um planejamento rigoroso que avalia os índices e taxas relacionadas ao coronavírus e que o retorno das atividades presenciais só será efetivo quando a porcentagem da ocupação dos leitos de UTI for menor que 80%, e a taxa de transmissão do vírus na Região menor que 1. “Atualmente, a instituição de ensino segue com o modelo de aulas on-line síncronas, as atividades ocorrem em modelo híbrido e, tão logo seja possível, serão retomados os calendários de práticas dos cursos da área da Saúde”, afirma em nota.

“O que temos certeza é uma informação repassada por e-mail, somente, que explica quando iniciaremos a possibilidade de retorno gradativo. Mas tudo é muito abstrato e genérico, o que torna o retorno cada vez mais longe da realidade para nós”, afirma Matheus Carvalho dos Santos, acadêmico de Direito.

UniBrasil

O UniBrasil não respondeu às tentativas de contato do Plural. Em suas redes sociais o centro universitário afirma que a retomada ainda não tem data definida, mas se dará de forma gradual, seguindo modelo de rotação, e os estudantes poderão optar pelo ensino remoto.

“Só volto para a universidade depois de ser vacinada com a segunda dose, antes não, e penso que todos deveriam voltar somente após serem vacinados. Eles dizem que tomam todos os cuidados, mas não creio no discurso”, avalia Simone Schoemberger, estudante de Direito do UniBrasil.

O Centro Acadêmico Romeu Felipe Bacellar, do curso de Direito, realizou levantamento no qual 64% dos estudantes disseram que não voltariam para o ensino presencial, enquanto 36% responderam que voltariam. Também foi realizada uma pesquisa com os professores de Direito que apontaram a impossibilidade de um retorno presencial.

Mercado Premium

Para Cláudia Silveira Moreira, doutora em Educação, o argumento do retorno no Ensino Superior Privado pode ser entendido pela lógica do mercado. “Existe um ‘mercado premium’ de cursos de grande prestígio social. Então, penso que hipoteticamente a retomada de atividades híbridas seja concentrada sobretudo nesses cursos de excelência”, avalia.

“Para os estudantes, é difícil avaliar os impactos, tampouco a possibilidade de atingir a plenitude da aprendizagem por meio da adoção desse tipo de modelo, porque tudo é muito novo”, declara a pesquisadora. “No entanto, é possível avaliar os impactos sobre o trabalho docente. Os professores estão sendo forçados a aprender a dar aula se dividindo entre turmas presenciais e à distância. É fonte de muito cansaço”, afirma.

O Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes) defende que não há razão para a volta às aulas no momento mais grave da pandemia. “A exemplo da conduta praticada em relação às instituições públicas, também as instituições privadas de Ensino Superior devem aguardar a vacinação de alunos e professores para retomarem suas atividades presenciais. Importante recordar que o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou considerando de natureza ocupacional doenças pandêmicas contraídas em face do trabalho prestado, razão pela qual a intransigência das instituições acabará se tornando verdadeiro tiro no pé”, diz o presidente Valdyr Perrini.

Isentas?

O estudante não é obrigado a ir à universidade para desenvolver atividades práticas laboratoriais ou aulas no modelo HyFlex. Porém, aqueles que desejarem retornar precisam assinar um Termo de Compromisso, declarando ter total ciência acerca de todos os riscos relacionados à pandemia do Covid-19, isentando a instituição de qualquer responsabilidade relacionada à ocorrências de doenças infectocontagiosas, acidentes, ou qualquer outros infortúnios que possam ocorrer neste ambiente, decorrentes de possível exposição ao vírus.

“Se a instituição colabora para a expansão do cenário pandêmico, não pode desonerar-se com base em cláusula de termo de compromisso”, diz o advogado Bruno Zanello, mestre em Direito. “O consentimento precisa ser analisado à luz de algumas questões. Até que ponto essa vontade manifestada nos termos de consentimento não está viciada por outros elementos, como a necessidade do comparecimento para eventual aprovação no curso”, questiona.

Segundo ele, exigir que os estudantes declarem consentimento é um assunto delicado, pois presume que a parte afetada tem um conjunto de informações, o que não é necessariamente verídico ou correto. “A discussão do alcance do consentimento, em último caso, revela a própria compreensão do juiz sobre autonomia da vontade, abrindo certa margem interpretativa. Todavia, entendo que não pode existir uma isenção de responsabilidade prévia nesses casos.”

Mais cursos

O UniDombosco, já retomou as aulas práticas através do modelo híbrido no dia 22/03, para os cursos de Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia e Psicologia. Na Unicesumar, apenas as atividades do período matutino já haviam retornado, os outros turnos terão início no dia 19/04. O UniOpet, por sua vez, planeja o retorno das atividades presenciais nos próximos dias.

*Colaborou: Mayala Fernandes

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