Pessoas entre 20 e 39 anos carregam quase metade dos casos de Covid em Curitiba

Festas e aglomerações ajudam a configurar o cenário, assim como as relações sociais, que aumentam as chances de contaminação nesta idade

Quase metade dos casos de Covid-19 registrados em Curitiba, de março de 2020 até as duas primeiras semanas de janeiro de 2021, foi entre pessoas de 20 a 39 anos. Estão concentradas nesta faixa etária aproximadamente 52 mil das 119,7 mil confirmações compiladas pela Capital durante o período, ou seja, cerca de 43%. De acordo com autoridades e profissionais da saúde, festas e aglomerações – como as que vêm sendo flagradas com certa constância nas últimas semanas – não são o fator principal, mas certamente ajudam a configurar este cenário.

O levantamento dos indicadores foi feito a partir da base de dados sobre casos de Covid-19 abastecida pela Prefeitura de Curitiba. Coletados mês a mês, os números mostram que, desde o início da pandemia, os casos foram predominantes entre pessoas de 30 a 39 anos. De agosto em diante, com a explosão dos resultados positivos na cidade, adultos entre 20 e 39 anos passaram a concentrar a maior relação de casos por faixa etária.  

Em dezembro, por exemplo, mês com mais notificações até agora na Capital paranaense, foram 13,2 mil registros positivos entre pessoas deste grupo – de um total de 30 mil casos distribuídos por ainda outras nove categorias de idade.

O que explica

O perfil não é, necessariamente, uma surpresa. Em agosto – quando a situação da Covid-19 no Brasil tinha sua primeira onda generalizada de recordes – a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) alertou para a impulsão de casos provada por jovens. À época, a diretora do órgão, Carissa Etienne, chamou a atenção para a grande maioria dos casos notificados de Covid nas Américas concentrada entre pessoas de 20 a 59 anos.

Infectologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), o médico Bernardo Almeida Montesanti explica que o fato de jovens carregarem a maior parcela dos resultados positivos para coronavírus não é coincidência, mas resultado de um conjunto de fatores que incluem a dinâmica e a probabilidade de transmissão viral e a proporção de pessoas suscetíveis à contaminação.

“Oportunidade é o número de pessoas com as quais você se relaciona no dia a dia e esse é o grande diferencial das faixas etárias. O jovem, entre 20 a 39 anos, tem mais relações sociais. E não só sociais, relações no geral, incluindo sociais, no trabalho, são pessoas em fase produtiva ou em fase escolar, educacional”, ressalta o infectologista.

Segundo ele, as chances de transmissão entre contaminados e suscetíveis também acaba prevalecendo entre os mais jovens, menos afetados pelos sintomas severos da doença. Além disso, os jovens também compõem hoje a parcela mais significativa da população, o que, proporcionalmente, aumenta as chances de estarem entre os grupos mais contaminados pelo Sars-Cov-2.

“Como a gente tem na nossa pirâmide etária a maior proporção de pessoas que estão mais ou menos entre essa faixa etária, ou seja, é onde está a maior parte das pessoas em números absolutos, então é natural que a gente veja com maior frequência infecção nessa parte da população, somando o fator de maior interações”, pontua Montesanti.

Festas e aglomerações

Festas e aglomerações clandestinas em meio à pandeia, que costumam reunir centenas de pessoas – a maioria jovens –, também podem estar por trás dos números. Mesmo não tendo uma relação direta – e comprovada -, as exposições aumentam as chances de circulação do vírus.

“Esse fenômeno [as festas] é uma correlação, sim, mas que não necessariamente tem uma relação de causa e efeito. O que na verdade é o mais provável é que a fiscalização tende a ser mais rigorosa e reativa na medida em que ocorrem mais casos. E quando temos esse aumento, vemos também que ele ocorre em todas as faixas etárias”, avalia o infectologista do HC.

O receio que a quantidade de festas explodisse com a chegada das comemorações de fim de ano fez o governo do Paraná anunciar mais fiscalizações da Polícia Militar (PM) e de autoridades sanitárias para evitar aglomerações e festas clandestinas em todo o Estado. Ainda assim, foram vários os flagrantes.

Em uma das ocorrências, no bairro Mercês, a PM encontrou um grupo de 60 jovens comemorando em uma casa. Menos de uma semana depois, no dia 18 de dezembro, ação conjunta da prefeitura e da polícia fechou outra festa clandestina com mais de cem pessoas em um clube noturno no bairro Prado Velho. Na mesma semana, a PM recebeu denúncias de uma festa em uma cobertura no bairro Batel.

E janeiro não tem sido muito diferente. No dia 10, equipes da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu-Covid) encontraram 400 pessoas em uma casa de eventos na Cidade Industrial de Curitiba e e interdições por aglomeração e falta de uso de máscara no Boqueirão, Xaxim, Bairro Alto e São Braz . No último fim de semana, mais casos: um deles seria um suposto encontro de swing em um restaurante japonês da Capital – caso que dominou as redes sociais na tarde deste domingo (24).

Na última quinta-feira (21), o Plural pediu dados e uma entrevista à Polícia Militar do Paraná para traçar um perfil dos flagrados nas festas irregulares de Curitiba e Região. O pedido, no entanto, não foi atendido.

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