Paraná tem oito filmes na Mostra de Cinema de Tiradentes

Todos os filmes podem ser vistos de graça on-line; festival começa hoje

O festival de cinema de Tiradentes traz, em sua 24º edição, oito filmes paranaenses, sendo três longas-metragens inéditos – uma façanha para o audiovisual local. Os filmes compõem a lista das 114 obras exibidas on-line e gratuitamente entre os dias 22 e 30 de janeiro. Doze filmes têm versões com recursos de acessibilidade por libras, audiodescrição ou legendas descritivas. O evento traz ainda debates, oficinas e rodas de conversa transmitidos ao vivo.

Com temas diversos e cineastas de múltiplas trajetórias, a seleção mostra a diversidade do cinema paranaense. Rodrigo Grota, diretor do longa-metragem infantojuvenil Passagem Secreta, por exemplo, tem 20 anos de carreira e é veterano na Mostra Tiradentes, com cinco filmes exibidos desde 2009. Já o diretor e roteirista Tiago Felipe chegou em um dos festivais mais importantes do cinema nacional, com o curta-metragem documental Você Já Tentou Olhar Nos Meus Olhos?, antes mesmo de se formar no curso de Cinema e Audiovisual. Seu primeiro filme exibido na Mostra é uma espécie de autorretrato, que parte de experiências pessoais e “faz uma reflexão acerca das necessidades e dos afetos de um corpo negro, além de discutir quem é que está ditando essas necessidades”.

Para o diretor de integração Regional da Associação de Vídeo e Cinema do Paraná (Avec), William Biagioli, a quantidade e a diversidade de filmes locais que chegaram à mostra demonstram que “há uma geração de realizadores e realizadoras que pensa cinema, e cada um pensa cinema de um jeito. Os próprios filmes guardam suas características, suas diferenças, e demonstram não só força, mas uma pluralidade de visões e ideias de cinema.” 

A diversidade também está presente no orçamento. A lista paranaense conta com filmes realizados com recursos próprios e equipe reduzida, como o curta-metragem de Tiago, filmado em casa, e produções que beiram os R$ 2 milhões. 

A mesma parte de um homem, de Ana Johann, por exemplo, contou com um orçamento de R$1,8 milhão e empregou diretamente cerca de 100 pessoas, em sua maioria mulheres de Curitiba e região. “A equipe é composta por 60% de mulheres, pois acredito que as mulheres precisam exercer cargos de chefia. Não basta estarem presentes, devem ter poder de decisão”, afirma Ana. Em suas obras, ela discute sobre papeis, narrativas, sexualidade da mulher e também sobre subverter esses papeis: “Acredito que é uma forma de resiliência e resistência nesse mundo.”

O diretor de Passagem Secreta, produção de pouco mais de R$1 milhão, se orgulha ao falar da equipe técnica e do elenco compostos majoritariamente por profissionais de Londrina. Dentre eles está Arrigo Barnabé, que faz o grande vilão do filme. Os forasteiros são o ator Fernando Alves Pinto, o diretor de fotografia Carlos Ebert, conhecido por seu trabalho em Bandido da luz vermelha, e Rodrigo, que se diz “londrinense de coração”. “Como a produção paranaense está crescendo muito, a tendência é o público paranaense conhecer cada vez mais os seus filmes, poder prestigiar as histórias filmadas aqui, que contam da nossa trajetória, da nossa cultura, que revelam nossas paisagens, rostos, corpos e sonoridades. É um momento de reaproximação com o espectador local e fortalecimento desse elo afetivo”, diz Rodrigo.

Passagem Secreta fala dos rituais da transição da infância para adolescência em uma fábula com elementos de suspense, sci-fi e aventura.

De acordo com William, muitos dos filmes que levaram o Paraná para o tapete vermelho nacional em 2021 foram produzidos com recursos da Agência Nacional do Cinema (Ancine), da Secretaria de Comunicação Social e da Cultura do Estado (Seec) e da Fundação Cultural de Curitiba ofertados em 2016 e 2017. Eles são fruto de “um sistema bem desenhado, que começava a dar resultado agora. Tudo leva um certo tempo para acontecer”. Ou seja, o período das vacas magras da Cultura – iniciado por Temer, elevado ao cubo no governo Bolsonaro e piorado pela pandemia do coronavírus – será percebido daqui a alguns anos com a escassez na produção e na representatividade nos festivais.

Os filmes paranaenses

Confira a seguir os filmes selecionados para a 24a edição, com sinopses dadas pela organização:

A Mesma Parte De Um Homem, de Ana Johann (longa-metragem na Mostra Aurora)

Renata vive isolada no interior com sua filha adolescente e seu marido, compreendendo o medo como um sentimento comum. A chegada de um desconhecido desperta nela o desejo por tudo o que estava adormecido.

De Costas para o Rio, de Felipe Aufiero Fonseca (curta-metragem na Mostra Foco)

Após o contato de um espírito da floresta, Pietro volta para Manaus para salvá-la. Ele deve evitar que a cidade seja destruída por uma Cobra Grande que dorme nos subterrâneos da região.

Eu Te Amo Bressan, de Gabriel Borges Philippini (curta-metragem na Mostra Foco)

Depois do fim de seu namoro, Bressan remonta episódios de seu relacionamento em uma inusitada história de amor.

Ela que Mora no Andar de Cima, de Amarildo Martins (curta metragem na Mostra Praça – Curtas)

Luzia vira “cobaia” dos doces e quitutes da vizinha confeiteira, Carmem. A amizade evolui para uma paixão platônica, que traz um novo sabor para os dias amargos de Luzia.

Napo, de Gustavo Ribeiro (curta-metragem na Mostrinha)

Com o agravamento de sua doença, um senhor precisa se mudar para a casa de sua filha, onde seu neto reinterpreta fotografias antigas em desenhos, o ajudando a recuperar memórias perdidas.

Mirador, de Bruno Costa – (longa-metragem na Mostra Praça – Longas)

Maycon é um boxeador que treina para retornar aos ringues enquanto divide seu tempo com dois subempregos. Pai de Malu, fruto de uma relação casual que teve com Michele, ele tem sua vida revirada quando se vê na situação de ter que cuidar da filha sozinho. Entre a rotina exaustiva de treinos e bicos para sobreviver a maior luta de Maycon ainda está por ser vencida: Tornar-se pai.

Passagem Secreta, de Rodrigo Grota (longa-metragem na Sessão para Família)

Alice é obrigada a se mudar sozinha para uma pequena cidade, onde encontra um novo grupo de amigos. Ao invadir um parque de diversões para resgatar um dos seus colegas, Alice descobre segredos sobre a sua identidade e precisa fazer escolhas.

Você Já Tentou Olhar Nos Meus Olhos?, de Tiago Felipe (curta-metragem na Mostra Panorama)

Quem dita o que um corpo negro necessita? Você já tentou olhar nos meus olhos?

A programação completa pode ser vista no site do Festival.

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