Ratinho e Greca desprezam lei para aparecer na foto da vacina

Eventos para imprensa aglomeraram jornalistas e políticos para o início da vacinação contra a Covid-19

O início da vacinação contra Covid-19 em Curitiba e no Paraná foi marcado pelo aberto desrespeito às leis da capital paranaense. Dois eventos, um num hospital de referência para Covid-19, reuniram mais do que 25 pessoas um espaço fechado unicamente para garantir foto do governador Ratinho Jr (PSD) e do prefeito, Rafael Greca (DEM) junto aos primeiros imunizados com a Coronavac.

A aglomeração de 25 ou mais pessoas em eventos é vedada pelo Decreto 1710/2020, que estabelece medidas de contenção do avanço da doença em Curitiba e foi prorrogado no último dia 9 de janeiro de 2021. O texto do decreto veda:

“IX – eventos presenciais, comemorações, assembleias, confraternizações, encontros corporativos, que envolvam contato físico e reúnam mais de vinte e cinco pessoas, excluídas da contagem crianças de até quatorze anos, em espaços de uso público ou de uso coletivo, localizados em bens públicos ou privados, excetuando-se a realização de eventos drive-in e processos seletivos em geral, de acordo com as regras previstas na Resolução n.º 1, de 16 de abril de 2020, da Secretaria Municipal da Saúde”

A alteração realizada no decreto no último dia 9 inclusive havia ampliado o número de pessoas por evento de 10 para 25 e incluído “processos seletivos” entre as atividades permitidas. O desrespeito a medida é infração administrativa e tem multa prevista em lei aprovada pela Câmara Municipal em dezembro de 2020. No caso de eventos, a multa prevista varia de R$ 5 mil a R$ 150 mil.

Bem na foto

O tour midiático da vacina começou na segunda-feira, quando um grupo de trabalhadores da saúde foi vacinado no Hospital do Trabalhador. O Complexo (que abrange também o Hospital de Reabilitação) mantém 74 leitos de UTI e 45 leitos de enfermaria exclusivos para Covid-19, além de ser um dos principais locais de Pronto Atendimento da capital.

Mas na segunda, dia 18, o Hospital recebeu um grupo de jornalistas de diversos veículos, servidores públicos e políticos para uma cerimônia de início da campanha de vacinação no Paraná. O ato começou com o próprio secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, carregando uma caixa com as doses.

Beto Preto posa com a caixa de vacinas em mãos, cercado por dezenas de profissionais de saúde e de imprensa. Foto: RODRIGO FELIX LEAL

Já na cerimônia, a enfermeira Lucimar Josiane de Oliveira, de 44 anos, se transformou na primeira pessoa vacinada contra a Covid-19 no Paraná sob os aplausos (devidamente registrados em foto e vídeo) do governador e do secretário de saúde a menos de um metro e meio de distância.

O evento teve direito também a foto grupal, com o governador cercado pelos médicos e enfermeiras vacinados em torno da caixa de vacinas devidamente adesivada com a marca do Governo do Paraná.

Aglomeração pós-vacina com o governador e o secretário de Estado da Saúde. Foto: RODRIGO FELIX LEA

Já a prefeitura de Curitiba começou o seu plano de vacinação na quarta-feira, dia 20, em um evento no Centro de Convenções do Barigui, ou “Pavilhão da Cura”, local em que será realizada a primeira etapa da campanha na cidade. A cerimônia também reunião políticos, imprensa e vacináveis em local fechado: o hall de entrada do pavilhão.

O início da vacinação em Curitiba começou com a enfermeira Silvana Maria Bora. A profissional recebeu a primeira dose da Coronavac da própria secretária Municipal de Saúde e membro do Comitê de Técnica e Ética Médica (que faz recomendações técnicas para a administração municipal no combate a pandemia), Marcia Huçulak.

Ao lado da enfermeira durante a aplicação da vacina estava o prefeito, Rafael Greca, que fez questão de não manter o distanciamento e segurar no ombro da funcionária. Logo atrás acompanharam a aplicação de pertinho o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Clóvis Arns da Cunha e o vice-prefeito, Eduardo Pimentel (PSD).

A secretária da saúde, Márcia Huçulak aplica a primeira vacina na enfermeira Silvana Maria Bora. Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Essa aglomeração foi precedida por um cerimonial com devido distanciamento social no qual os convidados a ocupar o palco sentaram distantes uns dos outros enquanto acompanhavam os discursos. Mas fora das fotos de divulgação do evento, o evento teve a costumeira aglomeração de profissionais de imprensa e até uma foto (que o Plural não vai publicar) de 12 pessoas da equipe de comunicação da Secretaria Municipal da Saúde com a secretária.

Prefeito Rafael Greca com o vice-prefeito Eduardo Pimentel, a secretária da saúde, Márcia Huçulak, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Médico Clóvis Arns da Cunha e o secretário da saúde do estado, Beto Preto começam a vacinação contra o Covid-19 em Curitiba. Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Outros eventos

Além dos eventos na capital do Paraná, o secretário Beto Preto participou de outras aglomerações no estado para divulgar a vacina. Já a secretária Municipal de Saúde, Márcia Huçulak promoveu um evento com mais de 25 pessoas no Pequeno Cotolengo para dar início a vacinação de idosos institucionalizados. Lá ela também aproveitou para tirar foto aplicando a vacina.

Não é a primeira vez que Ratinho Jr e seu secretário fazem aglomeração para promover o distanciamento social e outras medidas de combate a pandemia. Logo no início da crise o Plural já havia noticiado o desrespeito a regra em evento de divulgação de um decreto do governo do estado.

Questionada pelo Plural a respeito dos eventos, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que os eventos não desrespeitaram a legislação uma vez que deu visibilidade a vacinação e é um serviço essencial. Já a Secretaria de Estado da Saúde foi procurada, mas até o fechamento desta reportagem não havia se manifestado. Confira abaixo a íntegra da manifestação da SMS:

“Como a vacinação contra a covid-19 não é obrigatória, cabe ao poder público concentrar esforços para divulgar a campanha de imunização contra o novo coronavírus. Sendo assim, ações que possam mostrar à população a importância desse trabalho são essenciais.

Em Curitiba, na quarta-feira (20/01), foi realizado um evento de vacinação, que é um serviço de saúde e, portanto, é considerado essencial pelo artigo 5, parágrafo 1, inciso I, do Decreto Municipal 470/2020. O mesmo decreto, no artigo 5, parágrafo 1, inciso XLIX, considera essenciais as atividades acessórias dos serviços essenciais.


E, finalmente, o decreto 1710/2020, que teve sua validade prorrogada pelo 50/2021, no artigo 15, prevê que as medidas restritivas não se aplicam a serviços essenciais, salvo regra expressa em sentido contrário. Portanto, para o evento que abriu a campanha de vacinação não se aplica a restrição das 25 pessoas, prevista no artigo 2, inciso IX do Decreto 1710/20 na redação dada pelo Artigo 1, do Decreto 50/21″.

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