Como será o ensino híbrido?

Planejamento pedagógico e investimento são essenciais para garantir acesso digital e segurança sanitária

A divisão das turmas para a volta às aulas, prevista no Paraná para 18 de fevereiro, vai depender da cidade, da Rede e do planejamento adequado para o retorno. As escolas podem dividir as turmas em dias ou semanas alternados, ou ter alguns alunos presentes na sala e o restante acompanhando simultaneamente a aula pela internet. Para isso, também serão necessários investimentos em tecnologia de qualidade, e acessível, e estrutura segura, para a prevenção do coronavírus. E já temos tudo isso?

“Não temos nenhum planejamento em relação à adoção de um modelo híbrido de ensino, formação dos professores, debate de como conduzir isso, como fazer adaptação das metodologias de ensino que permitam que os alunos aprendam”, avalia Claudia Silveira Moreira, professora, mestre em Educação e pesquisadora do Núcleo de Políticas Educacionais (Nupe) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“A Seed (Secretaria Estadual de Educação) anunciou que estão num processo de aquisição de equipamentos que permitem parte dos alunos estar na sala e parte em casa, com promessa pro segundo semestre, quando todas as escolas receberiam. Isso denota uma completa falta de planejamento”, reforça.

Outro problema, segundo a pesquisadora, vem desde o início da pandemia. “Não conseguimos equalizar a questão de acesso à internet e equipamentos que possibilitam o acesso a todos. Temos uma desigualdade de acesso que foi exposta pela pandemia.”

Isso remonta aos espaços escolares. “Temos escola que não tem acesso adequado à rede de esgoto, sem água, banheiros sem condição de uso, imagina internet! Tivemos o ano de 2020 inteiro para que houvesse um planejamento, mas isso implica investimento, e não foi feito”, percebe.

Claudia diz que, em tese, concorda com a necessidade da retomada, pois as escolas são espaço de acolhida. “Mas estamos numa mesma onda da pandemia e querendo retomar sem proporcionar para educadores, alunos e as famílias condições sanitárias adequadas para receber os estudantes. O ônus vai ficar pra quem? Para as comunidades escolares. É muito triste.”

A pandemia agravou as condições das desigualdades educacionais e no Brasil isso foi ainda pior, aponta pesquisadora. “Não temos planejamento pedagógico nem de infraestrutura para receber quem trabalha na escola. Numa estimativa conservadora, a suspensão dos calendários escolares tirou de circulação 20% da população brasileira. Estamos em condição de recolocar esse número de pessoas de volta nas ruas, no transporte coletivo?”, questiona.  

“Precisamos colocar e discutir estas questões pois são importantes para a tomada de decisão, e estamos padecendo do básico da gestão, que é o planejamento”, conclui.

Foto: Giovana Godoi

Rede Estadual

Procurada pelo Plural, a Seed disse que só concederá entrevista na semana que vem. A pasta anunciou a compra de R$ 5,9 milhões em materiais de proteção e limpeza nos 2.132 colégios da Rede Estadual. Também anunciou a aquisição de totens para álcool e lavatórios.

“A intenção é que haja um revezamento semanal entre os estudantes (uma semana em aula remota e uma semana em aula presencial). Aqueles que não têm acesso à internet ou a aparelhos eletrônicos (e que tiveram de buscar atividades impressas nas escolas ao longo de 2020) têm preferência para a aula presencial. Os demais participarão do revezamento, desde que haja autorização dos pais ou responsáveis legais”, diz a Seed em matéria publicada na Agência Estadual de Notícias.

Rede Municipal

As aulas nas escolas municipais de Curitiba também terão início em 18 de fevereiro e os pais podem escolher entre mandar ou não seus filhos. “A escolha do modelo caberá às famílias. Quem optar pelas aulas presenciais levará o filho para unidade, ou o estudante terá acesso ao mesmo conteúdo, conforme seu ano escolar, por meio das videoaulas da TV Escola Curitiba“, informou a Prefeitura.

A cidade deve seguir o Protocolo de Retorno das Atividades Presenciais, organizado por um comitê com 28 membros de diversos segmentos e validado pelo Comitê de Técnica e Ética Médica da Secretaria Municipal da Saúde. O protocolo prevê uso obrigatório de máscara, distanciamento entre as carteiras de 1,5 metro, horários alternados de intervalo, uso de álcool gel, tapetes sanitizantes, interdição de bebedouros coletivos e aferição de temperatura.

Rede Particular

Cada escola particular deve definir a sua rotina de volta às aulas, também em fevereiro. Elas vão ofertar o ensino híbrido e escalonado, com revezamento de alunos. A volta presencial também é opcional aos pais. As instituições que retornarem em Curitiba devem seguir o Protocolo de Retorno da Prefeitura.

No Estado, o Sindicato as Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR) lembra que ““o Conselho Nacional de Educação já tem recomendações de emendar o ano de 2020 com 2021, mas isso ficará a critério da gestão de cada escola, especialmente sob o viés pedagógico e psicopedagógico”, disse o presidente da entidade Douglas Oliani., garantindo que as escolas particulares estão prontas.

Ele lembra que “além das questões pedagógicas, são diversas alterações, sob o viés econômico, as adaptações e metodologias do ensino, os reflexos psicopedagógicos com os alunos e a relação com as famílias”.

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